Colunistas

Publicado: Terça-feira, 10 de julho de 2007

Um brinde à vida

Na última terça-feira, depois de um cansativo dia de trabalho e mais a reunião daquela noite que se encerrava naqueles minutos, resolvemos – eu e um amigo – tomarmos uma cerveja para o merecido fechamento do expediente. Dirigimos-nos então a uma cervejaria, e lá começamos a tecer uma conversa entre uma e outra Brahma (de Agudos) e uma salada que é um dos pratos típicos do Possan´s. Essas nossas conversas às terças à noite têm sido rotineiras. Nelas, sempre tratamos de algumas poucas coisas da nossa sociedade nas escolas, para, logo em seguida, passarmos às divagações por alguns temas mais filosóficos.
 
Naquela noite, o assunto foi a transitoriedade da vida e, conseqüentemente, a morte. Nem sei bem como começou a conversa. Passados uns quinze minutos, discorríamos sobre o fato de os anos estarem passando muito rapidamente, lembrando de como ouvíamos isso quando éramos crianças, sem compreendermos direito o significado dessa fala que era bastante comum entre os adultos. Dentro do mesmo tema, fomos refletindo sobre a experiência que a idade nos proporciona, do quanto aprendemos, do quanto ficamos mais pacientes e das utopias que vão sendo relativizadas (nós dois já passamos dos cinqüenta).
 
A conversa foi então fluindo muito facilmente - a cerveja também - e fomos lembrando dos problemas que enfrentamos juntos, e do quanto amadurecemos nesses anos de convivência, entre as alegrias e as tristezas inerentes à vida.
 
Na conversa de botequim, não deixamos de discorrer sobre a paixão e o amor. A primeira que nos parece ter um tempo de duração limitado e a segunda que parece ser eterna (pelo menos enquanto há vida). E, falando de tantas coisas das vidas de um e de outro, fomos pontuando as não poucas similaridades. Depois de tudo que conversamos, acabamos elegendo a morte como tema para discussão de encerramento. Nossos pais – o meu e também o dele – faleceram em tempos relativamente recentes e também alguns amigos comuns partiram ultimamente.
 
No dia seguinte, acordei cedo e fui ao trabalho. Na metade da manhã, recebi por telefone a notícia de que um colega nosso, da época da Universidade, havia falecido naquela madrugada. Falávamos disso no dia anterior! Essa é a tal da sincronicidade? Saí do meu trabalho, fui para Campinas para tentar encontrar outros amigos e assim obter mais informações sobre o triste acontecimento. Acabei por não encontrar ninguém que procurei, nem mesmo por telefone. Assim, não consegui comparecer ao velório. Na verdade, fui à Campinas mas não estava muito inclinado a ir ao enterro; não gosto nada disso. Liguei para uma amiga de Jundiaí, dei a notícia a ela (o amigo era comum) e resolvi almoçar sozinho.
 
Durante o almoço solitário, fiquei com o tema na cabeça. Creio mesmo que a vida está caminhando rápido demais. Quando eu era criança o tempo não acelerava desta forma. Alguém deve ter aumentado a velocidade do relógio divino. Fiquei meio triste, com um sabor meio amargo na boca, mas resolvi não parar muito nesse tema que sempre me deixa um tanto depressivo.
 
Apesar da rapidez, a vida segue com as nossas alegrias, as nossas tristezas, com as pessoas todas que amamos, com as saudades, as paixões, os eternos amores, com as lembranças das boas coisas que ficaram para trás... Enfim, tudo transitório, tudo efêmero demais. Creio que o melhor mesmo é brindarmos à vida, enquanto ela dura: “Qual é o lema do clube? Saúde! Porque depois dessa vida não há outra”.
Comentários