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Publicado: Segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Turismo no Brasil visto lá de fora

Parece fácil um país se tornar destino turístico pelas suas atrações naturais e patrimoniais. Na Europa, tudo é bonito, antigos palácios, castelos com incríveis arquiteturas, igrejas maravilhosas. Milhões de turistas anualmente desembarcam no velho mundo para apreciar suas belezas, história, gastronomia e gastar. Ninguém se preocupa com a infra-estrutura porque ela já está montada há décadas, especialmente após a segunda grande guerra quando tudo foi reconstruído.
 
Por outro lado, por exemplo, quando se visita o Marrocos, no norte da África, país árabe com tradição monárquica, o buraco é mais embaixo. As ruínas de castelos e monumentos datam de aproximadamente 4.000 anos atrás. O país vive num grau de miséria elevada. Suas principais cidades preservam as “medinas” para deleitar os turistas, convidando-os a dar um passeio pela idade média. As medinas são as origens das cidades marroquinas. São áreas preservadas como se estivessem no século XIV. Elas, pelo vigor do comércio, tradição árabe, deram início às cidades vizinhas dos montes Atlas e da costa do Atlântico e ainda mantém muita vida com um intenso comércio de objetos de decoração, tapetes etc. O comércio, coisa que o árabe mais sabe fazer, é espetacular, com centenas de “lojas”.
 
Animais circulam pelas ruas estreitas. Se você não tiver um guia é certo se perder. Parece que todo o mundo usa roupa igual. Aquelas túnicas cobrindo a cabeça e o corpo não identificam ninguém. “Malak, Malak”, ou um som parecido com esse, é um grito comum nas ruas apinhadas de gente. Pelo cheiro, higiene, desorganização de trânsito, algo assim muito pior do que a nossa conhecida “25 de março”, em São Paulo. A turma grita Malak para os turistas saírem da frente ou dar espaço porque aí vem um cavalo, burro, camelo, uma carroça ou outro animal desfilando carga e morosidade. Significa cuidado, atenção. E, é claro, todos se apertam para dar passagem. O esgoto corre solto pelas ruas de pedra. Alguns que vendem frutos do mar lavam os peixes na “água corrente” das calçadas. E tudo bem.
 
Mas ali é o Reino do Marrocos, país vizinho da Europa e que já foi conquistado e dominado por meia dúzia de nações ditas civilizadas. As crianças que oferecem serviços nas ruas, como buscar um restaurante ou um hotel ou vender alguma coisa, perguntam que língua o turista fala. Pode ser francês, italiano, espanhol, inglês, português, árabe ou mais, eles conseguem se comunicar na sua língua. Marrakech, Fez, Tanger, Rabat, cidades tradicionais encantam pela cor, pela grandiosidade de suas mesquitas e pela segurança oferecida aos turistas. A famosa Casablanca é uma exceção, pois   mais parece uma cidade norte-americana. Apesar do caos urbano das medinas, lá, ninguém é roubado, pois a pena é dura. E a polícia também. A única recomendação que se faz ao turista quando ele sai da Espanha e atravessa o estreito de Gibraltar e entra na idade média moderna, com todos os problemas daquela época, é tomar água engarrafada ou levar um carregamento de água na bagagem.
 
O resto, Alá resolve.
 
Falamos tudo isso para termos um parâmetro de comparação com as recomendações que se fazem na Inglaterra, por exemplo, para os súditos da Rainha que pretendem vir ao Brasil.
 
Aliás, os avisos são pra lá de oportunos, pois todos nós sabemos dos perigos que corremos diariamente. Mas, quando vistos lá fora, machucam o amor que temos pelo nosso País.
 
No caso de São Paulo, as recomendações aos turistas ingleses começam pela saída do aeroporto de Cumbica, onde gangs de motociclistas atacam os táxis no caminho para o centro da cidade. “Os viajantes devem permanecer atentos nessa rota”, dizem os manuais distribuídos aos que embarcam em Londres.
 
“Você deve prestar atenção nos riscos globais oferecidos por terroristas urbanos que atacam preferencialmente estrangeiros, incluindo lugares freqüentados por estrangeiros”, continua o manual.
 
Cerca de 170 mil britânicos visitam o Brasil a cada ano. A maioria deles enfrenta problemas e se queixam procurando assistência nos consulados, principalmente com referência a roubos de dinheiro e de passaportes. “O nível de violência é alto, particularmente nas grandes cidades e você deve ficar vigilante, especialmente quando sai a noite”. Freqüentemente há violência urbana e enfrentamentos, entre a polícia e gangs de drogados ou traficantes, especialmente no Rio de Janeiro, onde há também grupos que atacam vestidos de policiais.
 
Em 2007, o Brasil vive uma grande epidemia de “dengue” com um número incrível de pessoas contaminadas em diversas regiões do país. O governo inglês reitera, com firmeza, a importância do turista buscar proteção preventiva na área médica, pois diversas outras doenças infestam o Brasil. “Por favor” leiam com atenção o manual do turista para a América do Sul.
 
Só falta acrescentar que somos o lixo do mundo. Não com certa razão. Mas o problema é que autoridades brasileiras ligadas à indústria do turismo precisam tomar novas atitudes. Ora, se todas as fotos que divulgam o País e em particular o Rio de Janeiro, mostram mulheres semi-nuas nas praias e nas rodas das escolas de samba, sem sermos puritanos, incentivam a idéia, no estrangeiro, que aqui é o paraíso do turismo sexual. Depois gastam fortunas para combater o turismo sexual. Além do que a venda da “mulher” como objeto turístico é um desrespeito total.
 
Se quando o Brasil participa de feiras, exposições etc leva escolas de samba para abrilhantar o evento, a idéia que passa lá fora é de que aqui dentro todas as mulheres se vestem de fantasias e criam fantasias na cabeça dos outros. Por quê não aproveitar melhor a divulgação de nosso folclore, da nossa gastronomia e das verdadeiras atrações que o Brasil oferece?
 
Mostrar a nossa casa como ela é
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