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Publicado: Segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Turismo médico, uma questão financeira

Qual é o verdadeiro valor de um tratamento médico? Partindo do princípio de que a qualidade do procedimento é equivalente em vários lugares, será que vale a pena gastar mais, ou economizar ao viajar para lugares como a Índia, Coreia do Sul, Polônia, Turquia ou México para tratamentos, do simples como dentista e implante de busto ao complexo como transplante de órgão ou operação do coração?

Os números confiáveis mundiais deste segmento são grandes, mas desconhecidos, e sempre tratados a sete chaves. Há apenas fortes indicadores da pujança desse movimento por ano. Na Inglaterra, estima-se em 100 mil o número de "turistas médicos". As Filipinas afirmam receber 92 mil pacientes só dos Emirados Árabes Unidos. A Coreia do Sul contabiliza 10 mil visitantes para tratamento de saúde. E apenas uma clínica dentária em Budapeste costuma atender até 4 mil pacientes vindos do exterior.

Por incrível que pareça, a questão está deixando de ser médica para se tornar financeira. "A decisão depende principalmente da taxa do câmbio da ocasião", afirma Julie Munro, presidente da Medical Travel Quality Alliance, empresa que atua nessa explosiva e dinâmica indústria. Assim, enquanto nos últimos anos a valorização da moeda afastou pacientes da Tailândia, Malásia e Brasil, o México, Turquia e África do Sul vivenciam processo inverso. Por exemplo: de acordo com o Banco Mundial, uma operação de artroscopia do ombro aumentou em dólares no Brasil mais de 60% em apenas oito anos, de US$ 5,6 mil em 2003 para US$ 9,4 mil em 2010.

Enquanto isso, no período, o mesmo procedimento manteve custos estáveis na Índia, México e Singapura. Situação parecida ocorreu na Tailândia, onde um aumento do busto vendido em 2006 por US$ 3 mil afastou potenciais interessadas pois hoje chega a US$ 4,5 mil.

Diante do quadro de saúde cada vez menos clínico e mais financeiro, surgiu uma ferrenha disputa entre destinos, assunto que até inspirou o livro O Corpo Estranho, do médico-escritor Robin Cook. Na trama, o autor descreve uma conspiração para destruir a reputação do turismo médico na Índia. Em uma batalha que está agora no campo do marketing, destinos emergentes como Turquia e Coreia do Sul ocupam progressivo espaço de mercado. Até países menos conhecidos pelos seus méritos médicos como Polônia e Vietnã – esse roubando da Tailândia pacientes de Bangladesh e Burma – metem a colher com vontade nessa lucrativa sopa.

No aperto financeiro que assola o mundo, ficam para segundo plano nobres princípios da medicina. No lugar entram em cena sem qualquer constrangimento políticas e estratégias de negócios e programas mercadológicos. Como consequência, surgem diariamente pacotes financeiros mais populares e preços acessíveis. A oportunidade não deve passar em branco para economias como as da Grécia e Islândia, que podem se tornar em breve as mais novas estrelas do turismo médico.

Com mais opções de destino, concorrência acirrada entre países, passagens aéreas mais baratas, e melhores níveis de informação aos pacientes sobre suas alternativas, o turismo médico deve experimentar um crescimento internacional. Não está longe o dia em que antes de ir ao dentista ou médico torne-se rotina pesquisar qual o local do mundo que oferece o melhor serviço com preços mais baixos.

*Este texto foi publicado originalmente na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 9 de agosto de 2012, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.

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