Turismo Diferenciado
Comoditização é uma palavra complicada, mas que ironicamente se refere a um conceito simples. Trata-se da padronização de produtos ou serviços com se fosse a mesma coisa perante os olhos do consumidor. E que, em turismo, tem a capacidade de causar o maior estrago nos negócios. Afinal, não há agência, hotel, destino ou prestador de serviços que queira ser percebido como idêntico aos demais, diferenciado apenas pelos preços. A boa notícia é que as pessoas têm gostos próprios, e as empresas necessidades diferentes. Portanto, a solução inteligente é identificar nichos que fujam ao lugar comum e permitam ao fornecedor se diferenciar da multidão.
Há exemplos de sucesso nesta abordagem de agências que encontraram na tematização ou especialização a forma de marcar o seu território. Como a Graffit Projetos Turísticos de São Paulo, fundada em 1997 por Carlos Silvério, um profissional com 36 anos no mercado. A sua agência e operadora atua em São Paulo, com foco no turismo receptivo, cultural e público sênior. "Nosso diferencial é a segmentação e tematização de circuitos", ele explica.
Hoje a Grafitt oferece 107 roteiros, 84 deles na Capital, voltados para empresas, instituições de ensino, eventos e associações. Cada um deles surgiu a partir de pesquisa de destinos, com apoio de entidades, Prefeituras e Secretarias de Turismo locais. Nasceram assim circuitos na Capital como o "Além dos Túmulos", "Luzes de Natal", "Graffitis Paulistanos", "Lembranças da Itália", ou "Show de Bola". Já no interior e litoral, há o "Maria Fumaça", "Heranças Holandesas", "Nas Terras do Lobisomem", "Monteiro Lobato", "Nas Trilhas da Cachaça", e "Retratos da Inglaterra", entre outros. Há ainda o "Taypa de Pilão", que abrange seis municípios paulistas. Há mais. Para os jovens, foi criado o "SP do Outro Mundo" e o "SP Musical", para os saudosistas o "Nos Bailes da Vida", "Vilas de São Paulo", "Nostalgia Paulistana" e para os interessados na vida rural o "Caminho da Roça" e "Circuito das Frutas".
Silvério tampouco perde oportunidade para lançar produtos, como o "Bruxas Soltas na Serra", realizado em Vila de Paranapiacaba durante o Encontro de Magos e Bruxas em 2012. Ele explora ainda o filão do aumento da criminalidade urbana. "Nosso próximo lançamento será o "Crimes Paulistanos", voltado especialmente para estudantes, estagiários e profissionais de Direito", ele revela.
A equipe da Grafitt entendeu a mensagem. Diante da globalização, avanço da tecnologia da informação e o perfil atual do consumidor, seria impossível persistir no modelo anterior. "Não dá mais para vender de tudo para todos, sem foco ou busca de novos modelos. É preciso inovar, falar a linguagem do cliente, identificar necessidades e tendências", explica o fundador.
A experiência de Carlos Silvério é útil não só para ele, mas serve de referência para empreendedores na área de viagens: "As pessoas querem o inusitado: vivenciar situações memoráveis, experimentar sensações e sabores, interagir, conhecer o estranho, e familiarizar-se com ele".
*Este texto foi publicado originalmente na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 27 de março de 2013, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.