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Publicado: Segunda-feira, 27 de abril de 2009

Turismo de um dia

A prática do turismo de um dia causa grande preocupação em empresários do setor, especialmente os da rede hoteleira. Há muito tempo que esse tipo de viagem denominada popularmente de “farofeira” perturba os donos de pousadas e hotéis e restaurantes porque o setor não fatura e não lucra com esse absurdo, segundo eles.
 
O pior é que a violência contra os jovens turistas ou grupos de baixa renda está crescendo e grandes restrições estão sendo aplicadas ao arrepio da lei. Nas cidades litorâneas, especialmente, todo mundo sabe que inúmeros hotéis e pousadas já se apropriaram da faixa de areia em frente a essas propriedades, como se fosse deles e não admitem penetras numa área que é pública.
 
Esse conflito vem aumentando. É o caso, por exemplo, da ocupação dos melhores trechos das praias pelos guarda-sóis de prédios e de hotéis que usam o espaço exclusivamente para os seus hóspedes. O que é proibido, pois a praia é de todos, ou melhor, é da Marinha.
 
Na maioria dos casos, todavia, prevalece o poder dos mandatários e seus empregados. Todo dia, por volta das seis horas da manhã, toda a praia já foi ocupada. No caso de ônibus de turistas do interior que vão ao litoral para gozar as delícias de um “banho de mar” eles já sofrem todos os tipos de restrições e burocracias para que seus motoristas consigam estacionar os veículos. É justo que o trânsito das cidades não seja afetado por eles. Que as avenidas a beira mar também não sirvam de estacionamento. O importante é se conseguir um ponto de equilíbrio onde cada parte ceda um pouco e que todos tenham o direito de frequentar as praias.
 
Mas, agora, a situação está ganhando novas dimensões com algumas prefeituras como as de São Vicente, Santos e Guarujá fazendo decretos que proíbem a existência dos turistas de um dia em suas cidades. Há exceções, é claro, como por exemplo, a participação de grupos em competições, romarias, congressos ou eventos sociais e culturais.
 
Além disso, criaram uma série de dificuldades burocráticas, como cadastramento dos ônibus e comprovantes de registros dos turistas em hotéis, multas etc. O interessante é que as prefeituras parecem não dispor ou não dar bola para seus departamentos jurídicos que sabem muito bem que tais ações são absolutamente inconstitucionais, pois afrontam o direito de ir e vir de qualquer cidadão por qualquer parte do território brasileiro, exceção às áreas restritas de segurança nacional.
 
Hotéis tomarem conta das praias onde estão instalados, prédios de apartamento ocuparem a areia pública com guarda sóis particulares e, agora, prefeituras excluírem os turistas de um dia em suas cidades – tudo isso é proibido pela constituição.
 
Mas como as casas de leis estão ocupadas com o uso de passagens aéreas, com apartamentos funcionais, com empregados domésticos pagos com dinheiro público e até no empenho da módica quantia de 20 mil reais para a compra de fantasias, ou coisas parecidas, para as crianças que visitarem o Congresso no próximo dia das crianças, em outubro, fica claro que não há espaço para se apreciar matérias importantes como essas, envolvendo turistas que, afinal, também votam.
 
No caso de Itu, já divulgamos o fato da existência de mensagens religiosas nos portais de acesso à cidade. Se a constituição brasileira, há mais de 120 anos, diz que o Estado é laico, isto é, não tem nenhuma religião oficial, por que, então, se permitir que uma determinada religião faça uso do espaço público para sua propaganda ou mensagem? Como tem acontecido ultimamente, o melhor é denunciar para a rede Globo, pois suas reportagens têm o mérito de consertar as coisas erradas neste país.
 
O pior é que esse assunto se tornou elitista e as classes dominantes se julgam no pleno direito de barrar os passeios farofeiros ou não, das pessoas de baixa renda porque elas não dão lucro. Os Conventios & Visitors Bureaus também apóiam essas medidas restritivas como se só os ricos tenham direito de ser turistas.
 
Será que Itu também vai entrar nesse barco inconstitucional?
 
O problema é que só com talento e criatividade e não com violência, se pode harmonizar essa questão. Quando a rede hoteleira ou as próprias prefeituras criarem eventos interessantes ou políticas públicas voltadas aos cidadãos de baixa renda, por si só excluídos da sociedade, o turismo poderá ganhar qualidade e ser convidativo e conveniente aos turistas ficarem mais de um dia na cidade escolhida, para o desejado lazer.
 
No caso da fidelíssima poderia ser criado um espaço de estacionamento longe do centro histórico, com infraestrutura para atender os turistas de um dia, com banheiros, lanchonetes e transporte para os pontos turísticos da cidade, tipo circular e outros detalhes. Mas, se não temos nem uma rodoviária decente, o que esperar?
 
No entanto, há o outro lado da questão. Os vendedores das tradicionais feirinhas de artesanatos, lanchonetes, ambulantes, camelôs etc. se dão bem com os turistas de um dia. Eles também têm direito à sobrevivência. Como equilibrar essa questão? Esse é o problema para ser pensado e resolvido com harmonia e não com discriminação. Para isso é preciso pensar em soluções. A&iac
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