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Publicado: Segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Transferir compulsoriamente é igual expulsar

As escolas de São Paulo, principalmente as do ensino médio, chegam ao mês de agosto com a metade de sua lotação. Há um número escandaloso de escolas que já fecharam por falta de aluno nos últimos dez anos. Na mesma proporção que aumentou o número de jovens encarcerados nas penitenciárias do Estado ou na Fundação Casa (ex-Febem).

O remédio, temos informado sempre: falta fiscalização nas escolas públicas, que inverteram a prioridade…

Professor é importante na escola. Mas o aluno deixou de ser a prioridade. Essa inversão de valores subverteu tudo, deixando a escola pública de cabeça para baixo.

Se o aluno é prioridade, e se ele tem direito a educação, não se justifica expulsá-lo, ainda mais por motivos fúteis.

Para fugir do flagrante delito da expulsão de alunos, as escolas, amparadas por uma ilegal Cartilha distribuída, agora a escola “TRANSFERE COMPULSORIAMENTE”. O que é a mesma coisa que expulsar, mas com um nome estranho.

Compulsória quer dizer “que compele; que obriga”… A transferência é contra a vontade do aluno e de seus pais. Então, é expulsão. O aluno não quer sair, mas é transferido na marra, na força…

As escolas não têm aluno bonzinho suficiente para lotá-las. Esse tipo de clientela que os maus professores querem não existe. Não existe aluno que assista passivamente aula medíocre, professor desrespeitoso e arrogante, sem contestar. Aulas muito ruins ou nenhuma que obriga as famílias a recorrer a cursos paralelos, ensinam em casa ou pagam professores particulares. Não tem aluno nesse perfil. Então a escola vai jogando para fora os alunos que não são bonzinhos ou que não têm família que possa fazer paralelamente o trabalho da escola.

No começo do ano enchem as salas, com números absurdos, que é para a verba chegar. Depois não precisam mais dos alunos e os jogam para fora. Usam a famigerada cartilha de Normas de Conduta Escolar. Se antes dessa cartilha já se expulsava aluno, imaginem com o aval da Secretaria Estadual de Educação.

Jogaram a água da bacia com a criança dentro. Esqueceram-se de que esses alunos expulsos não voltam requerer a vaga novamente. Humilhado pelo Conselho de Escola (que quase sempre só tem professores e funcionários), ele prefere ficar de fora.

O G1, site da Rede Globo, denuncia a consequência: metade dos jovens entre 15 e 17 anos está fora da escola… mas não denuncia a causa. Prefere dourar a pílula e jogar a culpa lá atrás. Alegam que aluno que começa o ensino fundamental sem ter cursado o EMEI (Educação Infantil) tem mais chances de não terminar o curso de ensino médio.

É óbvio, ululante, que isso é importante, mas o mais importante é manter todos na escola, não só os alunos “bonzinhos”, que os pais puderam pagar EMEIS de qualidade e podem continuar completando e tapando o buraco da escola pública…

Isso, de expulsar aluno, vai virando uma bola de neve. Quanto mais se expulsa aluno, mais precisamos gastar com segurança e saúde.

A escola nunca é responsabilizada pelos alunos que ela joga na criminalidade…

Se houvesse coragem e vontade política para cobrar da escola, cobrar que ela permanecesse com o mesmo número de alunos matriculados no começo do ano, e se cobrasse dessa mesma escola a qualidade do ensino e professor na sala de aula, as coisas tomariam outro rumo.

Os educadores sérios, que ainda resistem nas escolas públicas, estão tão angustiados quanto os pais pelo rumo que a escola pública tomou. Mas, infelizmente, a impunidade dominou a rede pública escolar.

O mau professor, mimado e paparicado, chegou a ponto de ter a seu favor uma cartilha que lhe permite jogar para fora o aluno líder, o aluno cobrador, o aluno que contesta e os alunos mais pobres (aqueles que não compram uniformes nem pagam as taxas ilegais).

Para o educador, uma fiscalização não o incomoda. Mas, para o mau professor, que é a maioria amparada pela impunidade e pela corrupção, fiscalizar a escola pública é uma heresia.

Se pagamos o serviço público, se nossos filhos usam a escola pública, podemos e devemos fiscalizar, sim, e cobrar uma boa aula também, sem sermos ameaçados e oprimidos.

Nessa época de eleição, vemos desolados que nenhum candidato se preocupa com os pais.

Ficam mascarando o problema e prometendo aumento de salário para professores ou colocar polícia circulando pelas escolas e adentrando as salas de aula.

O único profissional bem vindo dentro da escola é o professor.

Polícia é para quem precisa de polícia. Aluno precisa de educador.

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