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Publicado: Quarta-feira, 29 de setembro de 2004

Também sou forasteiro

Alguns leitores ficaram incomodados com a expressão "forasteiro" que usei na última crônica ao me referir ao perigo de votarmos em pessoas que não são naturais da cidade em que estão se candidatando a cargos públicos. Chegaram a me lembrar que eu também não sou ituano de nascimento e, por isso, não deveria me referir aos forasteiros em tom pejorativo. Ora, quem prestou bem atenção no que eu escrevi sabe muito bem que os forasteiros a que me referi no texto são aqueles que nem bem chegam e já se sentem o dono da situação; são aqueles que são recebidos de braços abertos e depois se aproveitam da generosidade e simpatia do anfitrião para tirarem uma lasquinha e se darem bem; são aqueles malandros; são aqueles mal intencionados; são aqueles perigosos; são aqueles que enganam, mentem e extorquem. E o que não falta é forasteiro aproveitador, e não é só na política não!

Quando vejo certos forasteiros tentando conquistar rapidamente a simpatia daqueles desprovidos de qualquer maldade, lembro-me de um sem número de aventureiros que conheci na cidade que me acolheu e que sumiu do mapa depois de dar o golpe e lesar amigos e comerciantes boa gente. Eram pessoas gentis, cordiais, envolventes, que seduziam e se aproveitavam da boa fé alheia para se dar bem e depois dar no pé, deixando um rastro de prejuízo e frustação. Sim, porque ser enganado por alguém em que apostamos nossa amizade é sentir, primeiramente, raiva por se considerar o mais otário do mundo, e depois, uma profunda tristeza por abrir o coração e as portas da nossa casa ou do nosso negócio a alguém que só queria nos usar para proveito próprio.

É claro que a maioria das pessoas que vêm de fora está à procura de qualidade de vida, de oportunidades para um futuro melhor. Bem recebidos pela hospitalidade que sempre oferecemos aos forasteiros, muitos deles acabam ficando, porém, há aqueles que percebendo uma certa ingenuidade escondida entre a cordialidade e a simpatia, se aproveitam da situação para aplicar golpes e depois desaparecer na poeira da estrada. A esses forasteiros que me referi quando quis alertar o leitor sobre os candidatos-forasteiros que se beneficiam da capacidade camaleônica de se apresentar como o salvador-da-pátria, o paladino das boas causas, o remédio para todos os males, apenas para subir mais um degrau para atingir seus objetivos pessoais.

A carapuça não serve para os forasteiros que chegaram - e continuam chegando - à cidade à procura de uma vida mais saudável, mais tranqüila e mais economicamente viável, empenhando sua vontade de trabalhar e de contribuir para o bem estar de todos que os recebem de braços abertos. Esses forasteiros merecem cada sorriso de boas vindas, sorrisos que eu mesmo recebi quando cheguei aqui há mais de 30 anos. Os outros, os oportunistas, não merecem nada, muito menos o nosso voto - caso sejam candidatos a alguma coisa.

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