Colunistas

Publicado: Terça-feira, 11 de setembro de 2007

Suave, como o aroma de flores de jasmim e alecrim

Suave, leve, como pluma, como espuma, como floco liberto de sumaúma, esvoaçante, fagulha etérea soprada uma a uma, delicadamente pela brisa, ao sussurro cálido da tarde. Agradável, leve e fresca aragem, por vezes tépida, difundindo chilrear de avezinhas, bicando pétalas multicores, aroma de flores de jasmim e alecrim, no ar harmoniosamente composto, oxigênio liberado sobre matizes de sombras e verdes, claros, cinzentos e escuros, aura de bem estar e paz a esvoaçar gárrula e alegremente, cumprimentando-me, beijando-me o rosto já sulcado de experiência, mas embebido, embevecido e agradecido, por dourados raios lânguidos e cálidos de poente esmaecido. Inefável, inesperado êxtase! ... Mosto inebriante, aquele instante! ... Momento mágico em que minúsculo beija-flor, verde metálico, estático e magicamente fixo, suspenso no ar, por arte ou laços de prestidigitador fantástico, invisível, fitando-me fixamente a poucos centímetros, com perceptível bondade e perfeição estética indizível, hipnotizando-me, comunicando-se com expressividade, tão afável e amigavelmente, através dessa única, singular, misteriosa e soberba condição técnica e telepática da mais grata simpatia carinhosa, grandiosidade da mais alta escala de valores, a traduzir perfeição, leveza, encanto e beleza! ... Esse minúsculo alado, fascinante e surpreendente ser, na imensidade e graça da mais plena, pura e existencial inocência, a resplender dourada coroa irisdiscente, refletindo e espargindo o vespertino sol alaranjado, ofertando balsâmica calidez, espargindo bondade, propiciando satisfação, grato aquiescer, sentimento de alegria e felicidade.  Beijo simbólico inesperado, espontâneo, generosamente oferecido, não pedido, mas grata e instantaneamente aceite e agradecido, dádiva generosa da musa natureza ainda visível, ainda nua, ainda nobre, fértil, fecunda, aqui ou acolá agreste ou crua, mas todavia e decididamente ainda cristalina, ainda sincera em sua candura, ainda pura sem mistura. Levantai os olhos e vede claridade inconfundível, esperançosa, passível de gerar e inspirar pureza e sensibilidade, a quem possa senti-la, adverti-la, querê-la neste globo tragicamente poluído, maltratado, traiçoeira e sorrateiramente ameaçado, e, no entanto, tão prometedoramente ali ainda virgem! ...
 
Ali, no recanto do Caí, divisando a linha e contornos da serra do Japí, respirando o sôpro vital que em pureza nos sustem, onde a natureza alerta e sabiamente precavida, praticamente ainda intocada e verdejante, prudentemente busca abrigo, refúgio seguro, ferindo-nos tão caritativa quanto criativamente o intelecto e o sentir distinto, agitando-nos contemplativamente, despertando-nos com exímia estocada e mística harmonia todos os sentidos, todos os estímulos subliminares edificadores de clarividência. Coerente, lúcida proba razão e correspondente transcendência, a entoar em uníssono a voz da alma, a percepção pragmática do bem, da bondade, do bom, do são, do santo, do balsâmico, do belo, (temas hoje tão desgastados, desprezados e quase esquecidos) a mais sublime e excelente visão de paraíso possível, imaginável, terrenalmente alcançável! ... No recôndito e na alma de quem tem olhos para ver, ouvidos para ouvir, mente para pensar e coração para sentir!
 
Ali, sob a benção e áurea benfazeja da Serra do Japí, concreta, espontânea, generosa, exuberante, dadivosa, bondosamente, no recesso da varanda da casa do Caí, patamar de onde todos os sentidos se espraiam livre e criativamente, é onde o justo descanso, ansiado, apetecido, agradecidamente fruído, põe de banda todo o acessório, todo o dispensável e, cede generoso lugar ao essencial, à renovação perene da estética, da beleza, da vida, da autenticidade, do judicioso critério, da plenitude pragmática do que é justo ou injusto, da perceptividade e inteligência harmoniosa da matéria consciente, sem a névoa de qualquer cálculo político das ambições humanas, tornando possível, em sensibilidade e agudeza perspicaz, sutil, delicada, penetrante, intuitíva, ou mesmo sacudida feericamente de letárgica apatia e  psíquico sonambulismo, vislumbrar, comungar ou tanger cordes harmônicos de mágica harpa, realizando e visualizando o Todo transcendente, o inescrutável, o indizível, o intangível, o inelutável, o único, o insubstituível! A lógica do eterno renovável, inspirador, transcendente e indestrutível! ...
 
Eis aí, sem sofismas, o mágico conjunto da obra incomensurável de um grande arquiteto, de um exímio pintor, de um inexcedível compositor, de inigualável escultor, de um soberbo missionário cientista, envolto em meio às suas pesquisas laboratoriais, de um inimaginável sofisticado e soberbo pensador filósofo, literato criador ou demiurgo, que irmanada e teluricamente a todos conclama e coordena ao sentido coletivo, em espírito de igualdade, unidade de propósitos e intenção, na imensidade e diversidade de cada um e de cada ciência ou de cada lei, ou de cada faceta interpretativa, mas na vocação iniludível transcendente da obra e do conjuntural, a que todos voluntária e conscientemente se obrigam e submetem rendidamente em busca de harmonia, concórdia, pertinência, propriedade, que contribuem, modelam, compõem e organizam a matéria dispersa pré-existente e através de modelos eternos perfeitos e dignas aspirações, nas quais se revelam e expressam o mistério, a ancestralidade da matéria, e desvendam perfeição, dimensão, a extasiante beleza comovente e gratificante, no todo holístico, que nos supera sempre, aprisiona, subjuga, desafia, nos converte, catequiza e nos liberta. Eis a evolução e a transcendência expressa e oferecida a quem possa e queira experimentar sua visão e seu alcance na responsabilidade ética do SER.
 
Ali, em mística companhia de paz inexcedível, em sensível fruição e comunhão com santidade visível, perceptível, palpável, indiscutível, dos valores essenciais à vida material, física, psíquica, psíco-somática, espiritual, de tudo o que é potencialmente renovável, eterno, vital e essencial, sai reforçada a crença, a fé e a compreensão imprescindível da profética lucidez contida na incrível e transcendente visão expressa na mensagem do Chefe índio Seattle, a conscientização do que deveria ser a verdadeira humana vocação e seu destino, em confronto com a rude realidade concreta da perigosa sociologia e tecnologia reinante, de um desenvolvimento destrutivo e desconsiderado com os valores vitais
Comentários