Publicado: Sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
Spes Salvi, a Carta da Esperança em tempo de Natal
No dia 30 de novembro passado, festa do Apóstolo Santo André, ante-véspera do primeiro domingo do Avento, o Santo Padre Bento XVI lançou sua segunda encíclica, com o título Spe Salvi, (Salvos pela Esperança). O tema nasce das primeiras palavras da citação da carta de São Paulo aos Romanos: “É na esperança que somos salvos” (8,24).
A Esperança, sem dúvida, é das virtudes mais importantes e urgentes para o momento atual. Hoje, o mundo parece viver à cata de esperança, tateando sem saber bem onde encontrá-la. Ao lado da fé que aponta a realidade do futuro e a caridade que realiza no presente o que se espera alcançar em plenitude, a esperança é a realidade-motor da vida humana aqui e agora.
Ao lado do empolgante progresso das ciências, dos modelos sociológicos, de formas novas de organização política, da razão e da tecnologia encontra-se a pessoa humana diante de assustadores desafios que a tornam incapaz de solução à vista. Crescem a violência, o materialismo, o relativismo, o hedonismo, o individualismo e o personalismo.
Até correntes religiosas e seitas têm surgido para alimentar valores efêmeros e passageiros, como se a realização da pessoa humana estivesse presa unicamente aos bens materiais, no conforto, no bem estar ou em valores transitórios.
A Esperança tem lugar nos tempos modernos?
Todos que vivemos neste período da história, sob a égide da chamada pós-modernidade, ao ritmo dos primeiros passos do terceiro milênio, experimentamos uma sociedade em transição, de transformações radicais e rapidíssimas, permuta de valores e ameaças de desvalores.
Afinal, vive-se num clima de mutações constantes e surpresas a cada dia, causadoras de entusiasmo e de insegurança ao mesmo tempo. Graças à inteligência dada aos seres humanos, a ciência e a técnica atingiram avanços jamais imaginados pelo homem do passado. E crescerão ainda muito mais.
Tal progresso é positivo, porquanto possibilita aos humanos melhores condições de vida, contudo sem possibilidade de dar respostas à suas profundas indagações existenciais. A vida, a morte e a eternidade são intrigantes perguntas para o homem moderno.
Permanece a pergunta sobre a sua esperança. Frente a tantas variações que a sucessão acelerada dos dias propõe, as pessoas buscam avidamente o sentido de sua vida e o fim último de sua existência. Há os que põem sua esperança no efêmero e se desiludem, ou se desesperam.
Idealistas e ideólogos se entregam a esperanças que, afinal, não podem ver realizadas plenamente. O homem moderno tentou colocar sua confiança na pura razão e na ciência, prescindindo da fé. Esta ficou relegada ao âmbito individual, privado, como um direito concedido quase por piedade a quem deseja crer em algo transcendente.
A esperança passou a ser identificada como o simples progresso. O Reino de Deus foi transformado em reino do homem. A razão e a liberdade são colocadas como contrastantes com a fé a Igreja.
Indicativos da encíclica
Nos oito capítulos da encíclica Spe Salvi, o papa Bento XVI propõe um estudo e uma análise sobre estes pontos. A matéria não pode preencher o vazio existencial, nem mesmo a ciência, nem a filosofia, nem a razão, nem qualquer outro elemento puramente terreno.
É necessário que algo seja definitivo e revestido de durabilidade para não haver perigo de frustração. É já momento de se fazer uma autocrítica dos conceitos modernos, como também do cristianismo moderno que tomou nuances por demais individualistas.
Para auxiliar a reflexão das pessoas que buscam, com boa vontade e sem preconceitos, o bem final da existência humana o Papa dialoga com teorias de pensadores e filósofos como Santo Agostinho e Lutero, Karl Marx e Engels, Bacon e Emanuel Kant e Theodor Adorno.
As tentativas de buscar a realização humana excluindo a existência e a ação de Deus, acabaram por revelar falhas e fracassaram. Afinal, somente em Deus o homem pode repousar, como já afirmara Agostinho, no século quinto. O cristianismo oferece a forma de tornar humano o progresso e de não permitir que o reino do homem tenha um fim perverso.
Não será a ciência e nem estruturas sociais que redimirão o homem, pois este só pode ser redimido pelo amor. O amor absoluto se encontra somente em Deus. Cristo é a revelação do “rosto” de Deus de forma a tornar acessível ao homem a redenção.
Esperança escatológica
Na presente encíclica, Bento XVI oferece uma verdadeira lição sobre um argumento, sem dúvida, urgente: a escatologia. O que acontecerá ao homem depois de sua vida terrena? Onde e de que forma Deus satisfará a esperança do coração humano?
Spe Salvi indica a oração, o agir em favor do bem e até mesmo o sofrimento, tão descaracterizado de sentidos nestes tempos modernos, como lugares de aprendizagem e de exercício da esperança. Maria, mulher modelo de esperança, é
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