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Publicado: Sexta-feira, 10 de abril de 2015

Solução simplista para problema complexo

Solução simplista para problema complexo

A queda proposital de um avião da subsidiária da Lufthansa por um piloto que ficou sozinho na cabine e decidiu se matar à revelia dos 150 passageiros a bordo já produz novas medidas de segurança de voo. Mas isto resolve o problema?

Como precaução, a maioria dos países, inclusive o Brasil, passou a recomendar a presença contínua na cabine de comando de pelo menos dois tripulantes - um deles, evidentemente, o piloto. O objetivo é evitar que algum outro piloto biruta assuma o comando na direção de uma tragédia depois de trancar a porta da cabine na hora que o colega for ao banheiro ou resolver esticar as pernas.

Procurei ouvir três especialistas brasileiros em aviação sobre este assunto, mas nenhum deles se arriscou a dar palpite. Eles têm lá suas razões para fugir da polêmica. Não precisa ser entendido em aviação para perceber que a decisão tomada não é uma panaceia para este problema.

Afinal, o que faria na prática uma comissária de bordo dentro da cabine para controlar um potencial piloto suicida na ausência de seu colega? É realista imaginar que ela poderia assumir o comando da aeronave sem contar com o devido preparo técnico? Como ela perceberia que o piloto está manobrando o avião com más intenções? Para imobilizar o maluco, ele teria que dar nele um golpe de caratê, ou quem sabe jogar gás de pimenta nos olhos dele para a seguir destrancar a porta e chamar o outro piloto que foi dar uma saidinha pelo avião?

Robert Hardaway, diretor da Universidade de Denver e coautor de um tratado sobre legislação aérea afirma que a melhor medida de segurança para evitar incidentes como o ocorrido, ou mesmo ataques de terroristas, é isolar a cabine de comando durante todo o voo. “É preciso repensar o projeto do cockpit”, diz. Ou seja, desenhar cabines com banheiro, cama, e até um compartimento para entregar comida, como se faz com prisioneiro em cadeia.

Assim como até a tragédia de 11 de setembro nos Estados Unidos não se pensou que as portas das cabines eram vulneráveis a ataques externos, não passou pela cabeça de ninguém deixá-las trancadas durante todo o voo. O professor também acha que deveria ser obrigatória a gravação do interior do cockpit para melhor entender o que se passou dentro dela em caso de acidente. É claro que estas sugestões não agradam nem às companhias aéreas por causa dos custos, nem aos pilotos, que passariam a ser prisioneiros dos voos com sua privacidade invadida pelas filmagens.

A melhor solução não precisa ser a mais custosa, mas sim a mais prática. Sem querer ditar regras, vale um exercício do bom senso. Por exemplo, será que não fica bem mais em conta, ao invés de criar sistemas de controle sofisticados, caros e inviáveis, aprimorar a seleção dos pilotos?

O risco de surto é o mesmo para quem dirige um ônibus, trem, ou navio. Por isto, não basta avaliar habilidades técnicas. É preciso também monitorar com lupa potenciais situações de stress e desvios de comportamento de quem conduz passageiros. Isto sem falar em oferecer boas condições de trabalho. No caso das companhias aéreas, quais são elas? É só perguntar a um piloto de avião que ele responde rapidinho.   

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