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Publicado: Quinta-feira, 9 de abril de 2009

Sofrer, Sofrer, Sofrer

A vida não é feita somente de flores. Há também os espinhos. Eles se contrapõem, pela dor que nos causam, à alegria que temos por contemplar belas pétalas e experimentar suaves perfumes. Uma rosa sem espinhos, não é rosa. Uma vida sem sofrimentos, não existe.
 
Sofrer faz parte da vivência humana, assim como sorrir, cantar e dançar. Pode haver quem nunca cante ou dance. Mas não há quem jamais tenha sofrido. O sofrimento nos derruba, nos abala, nos amedronta. Literalmente nos atormenta, nos aflige. Faz a comida saborosa ficar sem gosto. Faz a anedota perder a graça. Faz a esperança parecer um sonho distante a nunca se realizar.
 
Por outro lado, o sofrimento tem um viés didático. A criança sofre o choque ao enfiar o dedo na tomada, porém aprende a nunca mais repetir o gesto. Da mesma maneira nós aprendemos com os erros que cometemos. Isso em parte das vezes, pois parece que há coisas que nunca iremos aprender, insistindo nos mesmos erros de sempre.
 
Quando afirmo que o sofrimento nos aproxima de Deus, renego absolutamente a idéia de um Criador triste, carrancudo, vingativo. O Pai Celeste é justamente o oposto de tudo isso. Ele é alegre, acolhedor, misericordioso. Sofrer nos aproxima de Deus porque nos faz pensar. Nos faz refletir sobre a vida que estamos levando, sobre os desafios que enfrentamos no cotidiano.
 
Já que algum dia todos iremos sofrer algo, que o sofrimento seja didático. Que ele nos ensine e nos aproxime do Pai. Certa vez um grande amigo me disse que o sofrer é bom para manter a humildade. E é verdade. Nos faz ver o quão longe estamos de sermos perfeitos. Nos faz perceber que ninguém é melhor que ninguém: somos todos do mesmo barro, seres imperfeitos em uma árdua jornada em busca da felicidade.
 
Nos meus momentos de sofrimento, sinto a mão pesada da solidão sobre mim. Sinto o tormento das incertezas sobre o futuro. Sinto a angústia de não poder contornar, por mim mesmo, os males que me incomodam. Sinto a decepção de não ser tão bom quanto gostaria, diante de Deus e das outras pessoas. Sinto as lágrimas quentes a escorrer pelo rosto, como um rio transbordando tristeza.
 
Há salvação para esses maus momentos: lembrar-se da presença de Deus em nossas vidas. Por menos que mereçamos, o Pai está ao nosso lado. Ele está no mesmo barco que nós, esperando a hora certa de acalmar a tempestade. De nossa parte, pede somente que tenhamos fé, paciência, perseverança.
 
Nesses momentos em que tudo se nubla e que nem a mim mesmo entendo, sinto a presença do Pai. Ele senta ao meu lado, coloca seu braço direito sobre o meu ombro, abre para mim um sorriso amigo e diz: “Ei! Tenha calma! Estou aqui! Você não está largado no mundo! Eu cuido de você! Acredite em mim e seja fiel, não incrédulo!”.
 
E então recordo as muitas palavras de Jesus no Evangelho. Palavras que não passam, palavras de vida eterna, palavras que consolam e dão coragem. Depois sinto a força do Espírito Santo, que vem com todo seu amor divino em meu socorro. Como um fogo, ele encontra todas as feridas de minha mente, do meu coração. Como um fogo, ele as incinera e depois assopra. E deste sopro de amor, vem a sensação de consolo e alívio.
 
A mente se aquieta. O coração se tranqüiliza. O espírito volta a ter paz. Nos momentos de sofrimento, quem tem Deus em sua vida pode contar com tais graças. Não por qualquer mérito pessoal, mas por simples e pura compaixão divina. Confesso que não sei como suportam as mazelas desta vida, aqueles que não deixam Deus participar de sua efêmera existência...
 
Nas nossas horas de dor, é preciso manter a fé em Deus e suportar a tudo com esperança. Hoje sofremos, mas chegará o dia da felicidade eterna. Então não haverá mais choro, nem ranger de dentes. E nem a morte ou qualquer outro mal poderá nos atingir.
 
“Somos em tudo atribulados, mas não angustiados. Estamos perplexos, não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados. Abatidos, mas não destruídos. Não em desespero!”.
 
Amém.
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