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Publicado: Sexta-feira, 2 de setembro de 2005

Sobre o analfabetismo científico e matemático

Estive, na quinta-feira (01/09/2005), no simpático evento promovido pela London School, "Visit Itu", na Casa do Barão. Entre outras coisas, Giselle Castro Fernandes (diretora da London) ressaltou a impossibilidade de se locomover pela sociedade e de se exercer propriamente a cidadania sem dominar (pelo menos) um idioma estrangeiro. Faço coro com a senhora Giselle e vou além: não é possível exercer de maneira efetiva e responsável a tal da cidadania sem um mínimo de conhecimento científico e matemático.

Vejo, com certa freqüência, pais preocupados com o desempenho de seus filhos na escola, no tocante às ciências e à matemática, o que é louvável. Mas fico chocado com o fato desses mesmos pais não ficarem preocupados ou incomodados com seu próprio desconhecimento nesses assuntos. Muitas pessoas parecem pensar que esses assuntos (ciências e matemática) servem apenas para dar um diploma de nível médio ou fundamental a seus filhos (e lhes garantir um "futuro", um emprego) ou para esses filhos passarem em algum vestibular. Parecem não entender que essas disciplinas fazem parte dos programas de ensino fundamental e médio não para preparar pessoas para o vestibular, mas sim para dar um mínimo de embasamento para a pessoa se locomover na sociedade e gerir, de maneira eficiente, consciente e responsável, a sua própria vida e a de sua família.

Não é ncessário ter um diploma de médico para discutir e questionar seu médico com relação a tratamentos propostos. Mas é necessário ter um mínimo de conhecimento da fisiologia humana, de alguns fatos sobre digestão, procriação, genética... Não é necessário ser um bacharel em Economia para entender a regras e o custo de um empréstimo bancário, mas é necessário saber fazer certas contas, acompanhar certa linha de argumentação, entender um contrato e, se não entender, ser capaz de formular as questões apropriadas para esclarecer essas dúvidas. Todo esse conhecimento básico é provido pelo ensino nos níveis fundamental e médio. É ensino para a vida. Ficou famoso o episódio da menina que salvou a vida de um grupo de mais de 100 pessoas, quando do tsunami na Ásia, em dezembro de 2004. A menininha lembrou-se de uma aula de Geografia em que o professor explicou que se a maré baixasse rapidamente, isto seria uma indicação de que um terremoto seguido de ondas gigantes estaria se aproximando.

Todos os anos o Brasil conquista uma das últimas colocações (senão a última) no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (prova coordenada pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), mostrando a deficiência generalizada de nossos adolescentes na compreeensão de um texto ou no raciocício de base matemática. Mas, se essa prova fosse aplicada ao público adulto em geral, suspeito que a performance poderia ser ainda pior. Uma grande parte do público adulto parece não entender que as noções básicas de ciência e matemática, providas (ou que deveriam sê-lo) na escola,é de interesse diário. Sempre fico conjeturando sobre uma estatística sinistra: creio que, em média, 90% das pessoas não compreendem 90% do que vêem e ouvem na TV ou no rádio. Não é burrice. É falta de informação e formação básicas, as quais os adultos, em geral, postulam (acertadamente) que as crianças obtenham, mas que eles própios não se empenham em obter ou reciclar. O exemplo supremo e trágico de semelhante desleixo é o chefe maior da nação: o próprio presidente da república! Passou anos em Brasília, como deputado, e não se deu ao trabalho de terminar sequer o ensino médio. Nem por correspondência ! E agora está aí, soltando pérolas e mais pérolas a cada discurso. E grande parte do público adulto, desconsiderando essa prova cabal de pouco caso pelo conhecimento, votou nele. E alguns ainda falam em votar de novo ! Não sou católico, mas nessas horas me dá vontade de chamar correndo o padre Marcelo, para ele invocar a ajuda divina: Jesus, Jeeeesus, Jesuuuus, ....

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