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Publicado: Segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sobre a família

Sobre a família
Não podemos aceitar a falência do grupo familiar.

Acompanho atônita, como a maioria dos brasileiros, as notícias de violência e abandono às nossas crianças. Para cada caso notificado, um aperto na alma. Esse sentimento é reconhecido como compaixão. Compaixão, segundo profissionais do assunto, é um sentimento que nos leva a sentir a dor do outro.
 
Quando o sentimento de compaixão domina meu coração, em algumas situações tirando-me o sono, como no caso do recém-nascido abandonado dentro de uma caixa de papelão na cidade de Bauru, percorro um longo caminho mental em busca de respostas que possam aquietar e acalentar meus pensamentos.  Raras vezes isso é possível.
 
O que pode motivar uma ação agressiva a um ser indefeso, inocente e absolutamente dependente? Como alguém pode gerar um filho e carregá-lo na barriga por nove meses para descartá-lo numa madrugada fria à deriva da sorte?
 
Lembro-me de uma recente publicação revelando um trágico artigo sobre a falência do grupo familiar. O psicanalista, autor da tese, afirma que o desaparecimento da família trará conseqüências imprevisíveis e danosas na formação dos indivíduos. Os modelos instituídos, do pai para o menino e da mãe, para a menina, são fundamentais para o estabelecimento do ideal de vida. Com a demolição desses papéis os jovens perdem a referência. E pior, tendem a estabelecer como padrão de sucesso a vida individualizada, imediatista e egoísta.
 
Tenho perseguido esse tema como proposta educativa. Não quero criar a ideia de que defendo o casamento a qualquer custo. Absolutamente. Já passamos desse tempo: garantimos a liberdade de escolher o parceiro, a parceira, que poderá ser ou não o pai ou a mãe dos filhos que desejamos gerar. E isso, aliás, é que sugere maior responsabilidade: afinal não somos obrigados a nada. É obvio que podemos nos enganar, errar e refazer os caminhos que escolhemos.  Ainda assim continuamos responsáveis. É assustador acompanhar a angústia dos pequenos quando seus pais resolvem cuidar da própria vida, tentando compensar o tempo perdido num casamento que não deu certo.
 
O que defendo como proposta educativa é o fortalecimento do papel de pai e mãe no desenvolvimento emocional dos filhos, independente do casamento. E o quanto isso impera na formação de pessoas equilibradas, inteligentes e felizes. Incapazes de abandonar recém-nascidos.
 
A Unesco desenvolveu um projeto chamado 12 minutos, onde monitorou diversas famílias de países da América do Sul, que se propuseram a seguir as orientações do projeto. Durante 12 meses, os pais foram orientados a dedicar 12 minutos diários de atenção total aos filhos, crianças de 3 a 7 anos, desenvolvendo brincadeiras e atividades educativas. Com isso a Unesco comprovou a importância da estimulação familiar: todas as crianças que participaram do projeto, independente do país e da cultura, obtiveram um ganho substancial nos resultados escolares e, consequentemente, na vida pessoal.
 
Não podemos aceitar a falência do grupo familiar. Precisamos resgatar a responsabilidade pela formação dos pequenos, cultivada na vida doméstica. Até porque, doze minutos do nosso dia não é muita coisa, não é verdade?

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