Publicado: Sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Só mesmo um milagre

Como diz a amiga Bia, a situação chegou num tal ponto, que o rabo balança o cachorro. Este mundo está de pernas para o ar.
Na capa do jornal Folha de São Paulo de quarta-feira, em destaque, aparece a foto de um carimbo do Congresso Nacional, que é usado em todos os documentos que passam por lá.
O esdrúxulo é que a palavra congresso está escrita com cê cedilha! É o fim dos tempos, para usar o bordão de vó Zelinda, sempre muito apropriado para esses casos perdidos.
Vejam, caros leitores, o Congresso Nacional, o mais alto órgão de representação popular, responsável por decidir as leis do país, já há algum tempo, vem descendo a ladeira da ética e do decoro em alta velocidade, protagonizando cenas lastimáveis, em infindáveis escândalos que nos enchem de vergonha e provocam reações encolerizadas, que só encontram ouvidos moucos e nenhuma providência a altura do clamor nacional.
O finado cronista mundano, Stanislau Ponte Preta, que causou furor nos idos dos anos sessenta por espinafrar os “cocorócas” metidos a autoridades, lançou o movimento FEBEAPÀ, Festival de Besteiras que Assola o País, deve estar lamentando não poder dar continuidade a sua obra, que, com tanto assunto, seria uma verdadeira enciclopédia.
Com o “Congreço” chafurdando na lama de suas porcarias, sem tempo ou vontade de olhar para outro lugar além de seu próprio umbigo, o governador do Distrito Federal resolveu por um basta ao homicídio à língua pátria.
E baixou uma lei proibindo o gerúndio em seus domínios! Não é uma atitude extremamente sábia? A partir de agora, quem estiver fazendo atrocidades gramaticais deverá estar sendo punido. Por falta de informação de minha parte, não estou sabendo qual é a punição. Mas prometo estar me inteirando melhor para estar avisando aos leitores desta coluna a maneira correta de estar se expressando (ou estar expressando-se?).
O assunto para esta semana era bem outro, ia falar sobre São Francisco, comemorado hoje, mas o “congreço” ficou na minha cabeça, martelando, e roubou (será que é contagioso?) o espaço. Claro que aproveitei para pedir a São Francisco a graça (para os santos nada é impossível!) de colocar um pouco de juízo na cachola dessa gente.
Perdoem pela ironia, mas é a coisa está ficando cada vez pior, está que nem rabo de cavalo, crescendo para baixo. E como dizem que rir é o melhor remédio, ainda que seja um riso nervoso, quase beirando o mais absoluto desespero, prefiro rir e rogar por um milagre.
É o que nos resta, na impossibilidade de fazer aquele sujeito entender que tem que largar a cadeira, que não basta à mulher de César ser honesta, ela tem que parecer honesta.
Como não dá para explicar para um governador que, se a educação for de melhor qualidade, não precisa de lei para o povo falar corretamente, que não se muda a realidade por decreto, é melhor rir do que ter um acesso de raiva.
E estar passando a ler os jornais, com um copo de água com açúcar do lado, para estar prevenindo os sustos quando ler matérias do “congreço”.
É preciso, mais do que nunca, estar mantendo as esperanças, não estar desanimando nem desesperando. Até quando a professora diz que deficientes não podem subir degrais.
Só mesmo com um milagre, e dos grandes.
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