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Publicado: Sexta-feira, 19 de novembro de 2004

Sinos de Minas Gerais

Sinos e santos, estas são as primeiras imagens que me vem ...

Depois as ladeiras tortas, com casas se debruçando para a rua numa reverência aos passantes. Ladeiras íngremes, as ruas de pedras irregulares com janelas de cortinas rendadas, portas em cores vibrantes.

Igrejas que se revelam na curva de uma esquina ou se abrem em largos inesperados, paisagens que fotografei com os olhos e com a alma.

É incrível como memórias não se perdem, ficam em algum canto dentro de nós esperando o momento certo de soarem, como um sino ancestral.

Uma (re) descoberta foi o que empreendi em terras mineiras. Talvez com aqueles mesmos olhos de menina numa aventura anterior, espantados com tantos símbolos arcaicos, com toda aquela majestosa história que a cada passo descortinava um pedacinho de um antigo e mágico universo.

Os santos das infindáveis igrejas, que parecem ainda querer saltar sobre a menina que fui, medrosa daquela gente que olhava com seus olhos de vidro arregalados, seus longos cabelos causando pavor maior que as feições de sofrimentos que invariavelmente ostentam.

Aos pés dos santos, fechando os olhos por alguns momentos, ainda se pode ouvir o eco das antigas ladainhas e vislumbrar por traz do ouro e das tintas, as marcas insondáveis de vidas anônimas, que entalharam para a eternidade as formas e as crenças mais sublimes de suas almas barrocas.

Mas os sinos, em todos os momentos, os sinos...

Cada toque uma frase, uma mensagem cifrada para os que conhecem os meandros de seus repiques. Para mim uma música que vai estar sempre associada ao nosso cantar caipira, belo em sua raiz centenária que prossegue nos alimentando de sonhos e ousadias.

As onze badaladas que interromperam a canção soaram aos meus ouvidos como aplausos de Deus celebrando aquela noite povoada de pastorinhas, de calix bento, de peixe vivo ... Nessas ruas tortuosas, com o sagrado se equilibrando no alto dos montes e dominando mansamente os corações desavisados, os sons das músicas e dos sinos continuam a ecoar, o divino e o humano que ultrapassam tempo e espaço transformados em arte.

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