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Publicado: Segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Sinais invertidos no turismo

Crédito: Kalle Singer/Folhapress Sinais invertidos no turismo
O Brasil recebeu seis milhões de visitantes estrangeiros em 2013. O número é pequeno perto dos turistas que entraram na França (83 milhões) ou nos Estados Unidos (66 milhões)

O Brasil é o hoje o 12º maior exportador de turistas do mundo. Os dados são da Organização Mundial de Turismo (OMT) e demonstram um paradoxo: somos melhores em mandar gente para o exterior do que atrair visitantes. O Brasil é o quarto País que mais envia turistas à Europa, atrás de Estados Unidos, China e Canadá. Por isto, não há destino de qualquer parte do mundo que não mande suas missões turísticas para abocanhar um naco do generoso filão de renda.

Quando se trata de turismo, o Brasil vive uma situação tão bizarra como se um dia o McDonalds convidasse os clientes a comer hambúrguer no Burger King. São US$ 22 bilhões que todos os anos viajam sem volta para o exterior através de mais de 10 milhões de brasileiros. Há uma triste contrapartida: há dez anos recebemos não mais que cinco a seis milhões de estrangeiros que anualmente gastam menos de um terço do que os brasileiros dispendem no exterior. Enfim, alguém precisava explicar às agências e autoridades do turismo brasileiro que: a) não há nada aqui para festejar e b) os sinais andam invertidos, pois a meta é fomentar a importação de turistas, e não o contrário.

A situação demonstra que o modelo adotado – ou melhor, a falta dele – deu muito errado. Se por um lado as agências de viagens pouco têm a reclamar, pois financeiramente tanto faz mandar um turista para um destino local ou internacional, o mesmo não se pode dizer dos meios de hospedagem, das companhias aéreas com voos locais, e de toda a imensa cadeia de valor que depende do turismo para sobreviver. Nunca é demais repetir dados da própria OMT que provam a importância econômica do segmento. Com mais de um bilhão de viajantes mundiais por ano, o turismo gera um em cada onze empregos e contribui com 9% para o PIB global. Até 2030, as economias emergentes, das quais o Brasil faz parte, deverão experimentar um crescimento de turistas de 57%, trazendo só para estes países um bilhão de turistas internacionais.

Diante de cenário tão promissor, não faz sentido comemorar meros seis milhões de visitantes estrangeiros, pois soa tão esdrúxulo como alguém lavar um elefante com escova de dentes. Não se trata de comparar o Brasil com a França, que em 2012 recebeu 83 milhões de turistas, com receitas de US$ 54 bilhões. E muito menos com os Estados Unidos, onde 66 milhões de turistas deixaram US$ 126 bilhões de dólares. Basta observar a Malásia, o décimo país mais visitado, com 25 milhões de viajantes internacionais. Ou o México com 23 milhões, ou a República Dominicana, com quase cinco milhões de visitantes.

Está na hora de o turismo ser levado a sério como indústria de peso que é. E de substituir líderes associativos que ocupam espaço mais pelo vácuo de poder e omissão da maioria do que por suas reais qualidades. E de se livrar de autoridades acidentais sem compromisso com o segmento, e que vivem da demagogia política. E de, a exemplo do ocorre com a indústria automotiva, projetar a vontade dos que se dedicam ao setor e assim atingir conquistas que não serão apenas setoriais, mas sim de toda a economia brasileira.

* Este texto foi publicado originalmente na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 7 de janeiro de 2014, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.

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