Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Silêncio, amor e beleza

Silêncio, amor e beleza
a verdade que dormia confortável no meu inconsciente acordou para dizer: o destino dos pais é a solidão!

                                                                                                                                                                                                                         “Os bosques são belos, escuros e fundos.

Mas eu tenho promessas a guardar

e muitas milhas a andar

antes de poder dormir.

Sim, antes de poder dormir.”

Robert Frost

 

                                                                                                                                        

Não é segredo minha admiração literária pela escritora Lya Luft. Além das crônicas, seus romances e contos são tocantes.  Para pessoas afetivas, suas palavras são pratos cheios e saborosos...

Não faz muito tempo, eu li “O Silêncio dos Amantes”, lançado pela Lya em 2008. O livro nunca  mais me saiu da cabeça e do coração. Cada conto ali publicado revela histórias humanas como a minha e a sua. Toca  sentimentos  muitas vezes esmagados na rotina do dia a dia.  Em quantas ocasiões não me inspirei naqueles contos para tomar decisões e atitudes em  relacionamentos pessoais:  “Digo ou não digo? Converso, abro o jogo ou fico em silêncio?” 

E foi assim que eu comecei a prestar atenção aos silêncios. Silêncio que liberta ou silêncio que escraviza: como saber quando termina um e começa o outro?

Na minha infância, eu anotava no caderno de escola os nomes dos professores que mais tempo em silêncio conseguiam ficar em sala de aula. Achava engraçado cronometrar os silêncios das pessoas. Um casal de tios da minha mãe sempre me deixava intrigada, porque só o homem falava, a mulher não − até para nos cumprimentar ela balançava a cabeça; parecia muda, mas não era: de longe, a gente ouvia a conversa dela com seus 27 gatos.

Quando meus filhos cresceram e foram saindo de casa, num processo natural de fazer a própria vida, comecei a me incomodar com o silêncio imposto nas paredes de casa. Rubem Alves diz que “o silêncio é quando as ideias que dormiam no inconsciente acordam e aparecem”; então, certamente foi esse o meu incômodo: a verdade que dormia confortável no meu inconsciente acordou para dizer: o destino dos pais é a solidão!

Como psicopedagoga, eu já sabia que as pistas de um conflito interpessoal não são reveladas no que foi dito, mas sim naquilo que não foi dito...

Por isso, o silêncio que tanto  incomoda, a partir da tese de Alves,  é aquele que provoca um vazio horroroso, que esvazia qualquer pensamento... porque ele guarda os segredos mais profundos, mais íntimos, mais honestos.

“O Silêncio dos Amantes”, livro que  li e reli tantas  vezes, nos ajuda a vencer os silêncios que  libertam, nos inspirando a falar a linguagem do  amor − que  diz das verdades da vida,  subordinada à bondade e à beleza de aceitar as escolhas dos filhos,  o fim de um casamento intenso  ou  de  um  novo encontro que se aproxima.  Afinal, como disse o jovem jornalista Felipe Pena,  “o amor são duas solidões que se protegem”. 

Comentários