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Publicado: Sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Sem Perceber

Sem perceber, constatamos que estamos vivendo há muitos anos e dezenas de calendários foram arrancados e substituídos. Se lembrarmos da mocidade, que já se encontra há décadas de distância, situamo-nos em trabalhoso campo de atividades aonde, como hoje, a correria era intensa, os afazeres e os compromissos também não permitiam muitas reflexões. O necessário, hoje, como sempre, é viver.

 

Então, vivemos como fomos lançados no mundo. Daí a importância da família. Se tivermos a ventura de ter pai, mãe, irmãos, parentes, todos unidos e bem organizadinhos, num contexto social razoável e dentro do nosso Brasil - cristão, a nossa sobrevivência e convivência poderá ocorrer dentro de normalidade feliz.

 

O resto ficará a cargo do natural desenvolvimento. E esse desenvolvimento, na agitação cada vez mais efervescente, fará com que a rapidez do tempo, somente muito tarde e sem perceber, nos sinalizará que envelhecemos. A palavra envelhecer, nada agradável, só a longo prazo será incorporada ao nosso  vocabulário.  Faremos tudo para não escrevê-la e desejamos verbalizá-la o mínimo possível.

 

Notamos que nos distanciamos cada vez mais dos jovens: não entendemos a sua linguagem com facilidade (também a nossa capacidade auditiva e outras mais vão diminuindo). Detestamos as suas manias, reprovamos muitos dos seus hábitos e aí sentimos a mudança dos processos educacionais, a diferença das gerações, costumes, tendências.

 

Sem perceber, notamos que até as lembranças se esvaecem, pois, longe vai o tempo dos nossos filhos pequeninos ou adolescentes em suas atividades escolares. Hoje, já criados e também pais, nos arrumaram o epíteto de avós, com o qual também já nos acostumamos.

 

Acontece que a vida continua e de moços que éramos, passamos a ser os idosos da época, sem perceber. Num determinado momento, porém, deve acontecer o epílogo. Cada um deverá desempenhar o seu papel final com o melhor talento e autenticidade. As lembranças ficarão restritas aos escaninhos do passado. Lá se encontrarão, de acordo com as posses, grandes tesouros, requintadas ou simples fotografias, ou apenas ínfimos recortes de jornais.

 

O futuro se restringirá, ao que tudo indica, ao renascer diário. Nada de projetos e perspectivas fascinantes. Talvez aprofundamento na metafísica, com interesse especial para temas escatológicos, como parúsia, páramos celestiais, julgamento universal, localização das moradas celestiais, infernais ou purificadoras.

 

Não haverá mais tempo, possivelmente, para corrigir erros do passado. Bafejado pela graça, talvez, ainda consigamos minimizar os maus efeitos daqueles erros. Sem perceber, morreremos e nos sepultarão num cemitério qualquer, aonde os mais chegados, talvez, passem a lastimar a nossa ausência, com algumas lágrimas furtivas.

 

Será mesmo sem perceber, que acontecerá tudo isso ou estamos nos iludindo, apenas para fugir da realidade?

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