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Publicado: Quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Segurança, o melhor salva-vidas

Virou moda comparar os naufrágios do Titanic, em 1912, com o do Costa Concordia, este ano. Nada mais injusto. Para começar, morreram 1.514 (68%) dos 2.201 passageiros do Titanic, contra um máximo estimado de até 30 fatalidades em relação às 4,2 mil pessoas do Concordia (0,5% do total).

O que separa a fria estatística entre os dois acidentes são os avançados patamares tecnológicos conquistados em 100 anos por uma indústria que em 2010 faturou US$ 24 bilhões, e que não para de se aprimorar a partir dos erros, principalmente em segurança.

O seu maior mérito foi democratizar um lazer sofisticado antes reservado a poucos, ao aumentar o tamanho e ocupação dos navios e com isto baratear as passagens. Segundo a Cruise Lines International Association (Clia), no ano passado, 16 milhões de pessoas embarcaram em cruzeiros marítimos das 26 principais linhas do mundo. E fez isto sem sacrificar a segurança e quase sem incidentes graves, o mais recente em 2010 quando dois passageiros do grego Louis Majesty morreram atingidos por onda gigantesca.

A partir do desenho estrutural, navios de cruzeiro atendem rígidas regras internacionais de segurança e proteção ambiental. O funcionamento de sistemas e equipamentos contra incêndio e salvamento, inclusive barcos e coletes para todos, além de treinamento da tripulação para emergências estão sob exame minucioso de autoridades.

Enquanto no Titanic, que se alardeava "à prova de pique", levava no deck metade dos barcos para atender 2,2 mil passageiros, hoje os navios carregam botes que atendem pelo menos 25% mais do que o total de passageiros e tripulantes. "O Costa Concordia tinha barcos suficientes", afirma Charles Weeks, professor emérito de transporte marítimo da Maine Academy. Além de mantimentos e kits de sobrevivência, os barcos salva-vidas dos cruzeiros precisam ser embarcados e afastados do navio em até 30 minutos após o sinal de abandono.

Segundo o Clia, em média um navio de cruzeiro tem cinco equipes treinadas em combate ao incêndio, 4 mil detectores de fumaça, 500 extintores, 32 km de cabos de sprinkler e 10 km de mangueiras. Um sofisticado equipamento mantém o curso e a estabilidade, afastando a nave de mau tempo. Especialistas, como Abremar e o Clia, afirmam que não há o que temer. Comparem-se navios a aviões, outra indústria que dá show em segurança. Só em 2009 foram 30 acidentes aéreos, com 757 fatalidades. Isoladamente, o triste destino do Airbus da Air France que caiu no Atlântico quando ia do Rio de Janeiro para Paris matou 228 pessoas. No ano passado, o pior acidente foi com um avião da Iran Air, com 77 mortes.

Falando o óbvio, nem aviões foram construídos para cair nem navios para afundar. Mas, apesar dos recursos tecnológicos, procedimentos e treinamentos em segurança, acidentes acontecem. E quase sempre por erros humanos. Isto não faz pessoas deixarem de pegar avião ou embarcar em cruzeiro. É cedo para avaliar consequências do naufrágio do Concordia, mas os primeiros indicadores apontam que o movimento de cruzeiros não será afetado. Veja o que diz Seamus Conlu, que representa a maior agência online de cruzeiros da Inglaterra: "Ficamos muito tristes com o acidente do Concordia, mas ele teve pequeno, para não dizer nenhum, efeito sobre as reservas".

*Este texto foi publicado também na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 26 de janeiro de 2012, no Diário da Associação Comercial de São Paulo.

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