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Publicado: Sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Segredos de pilotos

Ao trancar a porta que separa a cabine de comando do interior do avião de carreira, nenhum passageiro tem a menor ideia do ocorre lá na frente. Como é que o comandante e piloto reagem às diferentes situações enfrentadas durante o voo? Pensando nisso, a revista Reader's Digest conversou com dezenas deles. Eis os comentários mais interessantes, a maioria anônima por razões óbvias:

Certas regulamentações não fazem sentido. De um lado, permitem aos comissários servir café e refeições quando o avião está a 39 mil pés e a 400 milhas por hora, com a real possibilidade de atravessar uma repentina turbulência. De outro, obrigam todos a manter os cintos de segurança afivelados quando a aeronave encontra-se já em solo a dez milhas por hora em pista asfaltada, como se estivesse em Fórmula 1.

Estamos constantemente sob pressão para carregar pouco combustível. Como as companhias aéreas estão sempre em busca de melhores resultados financeiros, às vezes, temos o suficiente para chegar ao destino e, ao enfrentar tempestades e atrasos, nos vemos sem combustível, obrigados a pousar em um aeroporto alternativo.

Os pilotos ficam perplexos com o medo de tanta gente por turbulência pois não há a menor possibilidade disso causar um desastre. Evitamos a turbulência não por medo de que a asa se desprenda e caia, mas porque é desconfortável.

Uma coisa é o piloto acender o sinal para afivelar os cintos de segurança. Outra é quando pede aos comissários para sentar pois significa pesada turbulência à frente.

A verdade é que ficamos exaustos. Podemos trabalhar até 16 horas sem descanso. Isso é muito mais que um motorista de caminhão que encosta em uma parada de estrada para descansar. Nós não podemos estacionar na próxima nuvem.

Na maioria das vezes, a perícia do piloto pode ser avaliada pelo pouso do avião. Se quiser dizer algo agradável ao sair, fale para ele que fez um ótimo pouso.

Uma vez viajei na cabine de comando de um cargueiro 747. Assim que as portas se fecharam, o comandante vestiu roupão e chinelos. E me explicou: 'não vou colocar gravata para um monte de caixas'.

O que um piloto nunca vai dizer: 'Senhores passageiros, a visibilidade aqui na frente é igual a zero'. O que ele dirá: 'há um pouco de neblina na área do aeroporto'.

Já fui atingido por relâmpago duas vezes. Você ouve um barulhão, vê um imenso clarão e pronto. Aviões foram construídos prevendo essa situação e não caem do céu por causa disso.

Só falamos aos passageiros o que precisam saber e nada que os possa preocupar. Ninguém vai ouvir: 'senhoras e senhores uma das turbinas parou de funcionar', mesmo que seja verdade.

A área mais agradável para se sentar é perto da asa e a que pula mais é no fundo. Avião é como gangorra: a parte do meio não se mexe muito.

Quem tem medo de avião deve voar de manhãzinha. Depois, o calor do solo causa turbulência e, à tarde, a possibilidade de tempestades aumenta.

As pessoas passam mal ou até ficam doentes após viajar de avião não pelo ar que respiram durante o voo, mas pelo que tocam. Itens como a mesinha à frente da poltrona ou o botão que a reclina são raramente limpos.

Essas coisas acontecem nos Estados Unidos. E no Brasil, será que é muito diferente?

*Esse texto foi publicado também no site www.dcomercio.com.br, na coluna "Viagens de negócio", do mesmo autor, no dia 11 de novembro, caderno de economia.

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