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Publicado: Sábado, 29 de maio de 2010

Saúde em 3D

Crédito: google Saúde em 3D
discursos salutares ?

Essa semana parou Gramado, RS – mais de 1500 municípios do país se reuniram no tradicional Congresso Nacional de Secretarias Municipais de Saúde para discutirem (mais uma vez) o destino e rumo do SUS no novo século. Às vezes, essa discussão se torna uma grande mesmice: somos gestores combatentes, guerreiros, perdidos, indignados, corrompidos, cansados, manipulados, desqualificados, profissionalizados, abatidos. Ser gestor de saúde hoje em dia, requer resignação e aceitação, características difíceis de encontrar entre os verdadeiramente poderosos, que decidem sobre a saúde coletiva de uma população – talvez possamos dizer que autênticos gestores de saúde estejam em extinção.

A batalha é longa: o SUS criado há mais de 2 décadas está a beira do colapso por conta do sub-financiamento e desprofissionalização da gestão. Pouco adianta novas políticas públicas se realmente não cicatrizarmos a ferida causada pelo descaso, incapacidade e insensibilidade para com a saúde alheia.

A verdade? Falta pulso, pressão, peito aberto, dignidade e ética.

O SUS é na verdade uma política exemplar, universalizada (direito a todos!), descentralizada (cada municipio, independente do seu tamanho é ordenador de suas diretrizes), com princípios de equidade (diferentes são diferentes!) É exemplo mundial de Controle Social (o SUS se constrói com o acompanhamento da população e analise criteriosa das suas reais necessidades) , exemplo  de redistribuição de renda (o governo federal  repassa diretamente para os municípios financiamento para a saúde básica ) , exemplo de enfrentamento a doenças que atingem a todos, independentemente do seu “nicho” social como a AIDS e doenças previníveis com vacinas como a girpe H1N1 (famosa como gripe suína ...) Aposto, que você não sabe que foram vacinados mais de  65 milhoes de pessoas no pais e que esse exemplo de mobilização gerou espanto e admiração no mundo, rendendo uma honrosa e emocionante homenagem do ministro Temporão ao corpo de enfermagem do pais.

Esse congresso, dentre tantos outros, teve um diferencial importante: ano de eleição. Inseridos de ultima hora na programação, estiveram presentes distribuindo promessas, disputando holofotes e com uma retórica segura Dilma, Serra e Marina (nesta ordem, já explico!) para tecerem suas ideias para a área da Saúde. Falei na ordem dos candidatos porque me pareceu uma bela manobra um falar após ouvir o que o outro disse primeiro... enfim... a confirmação da presença se deu de forma gradual , inesperada e pouco programática.

Mas, mesmo assim, temos questionamentos e esperamos respostas. A ex ministra Dilma falou com propriedade de quem acompanha o governo há quase uma década: promessas sobre o que (ainda) não foi feito, valorização do trabalho coletivo, insersão da Saude em um complexo industrial potente, desoneração de remédios de uso continuo, promoção de saúde. O ex- governador Serra discursou pautado na sua experiência como ministro fazendo com que seu discurso parecesse uma roda de conversa entre amigos e prometendo regulamentação da famosa Emenda Constitucional 29 no começo de seu mandato (apesar de não cumpri-la na integra no nosso estado). E a ex senadora Marina Silva falou com o coração, memorizando sua própria trajetória e vivencia no SUS e sua decepção com o acolhimento recebido no quesito do acesso aos serviços de saúde e maus diagnósticos e chegou a levar às lágrimas uma platéia dura e ácida, que rendeu-se aos seus encantos.

Todos têm suas experiências, opiniões, desejos, necessidade e promessas. A disputa é acirrada. Mas, nem de longe a plataforma principal da campanha deles é o Setor Saúde.

Fico triste, apesar dos aplausos acalorados das platéias de quase 2000 pessoas para os potenciais candidatos.  Nós, gestores, temos reivindicações claras : a aprovação da emenda constitucional 29, que foi feita para garantir um financiamento mínimo à Saude, para que o SUS tenha sustentabilidade : fato só honrado pelos municípios e desrespeitado pelos estados ( 17 não cumprem o mínimo de aplicação de 12 % de suas receitas próprias na saúde ) e de responsabilidade adiada pelo governo federal frente a cruel dúvida de se aumentar impostos ou não, para contrabalancear uma receita indócil. Pedimos também que nosso pais, com dimensões continentais tenha um SUS regionalizado, que respeite as diferenças de verdade – não mais podemos ser iguais do Oiapoque ao Chuí, temos que atender às diferenças nada sutis. Há um forte clamor por um plano de cargos e carreiras, que incentive o profissional prestador de serviços ao SUS fixar seu potencial e honrar compromissos. Enfim, a questão é muito mais de postura do que promessas.

É isso que chamo agora de Saúde 3D : olhar multicêntrico, multifocal, profundo, colorido, envolvente. Precisamos acordar daquele estagio descolorido que macula o futuro que não existiu ainda. Nada de inconsistência ou promessas tolas. Queremos ação.

É na saúde que todos se encontram, transitam, usam e criticam. Ela não elege ninguém, mas derruba todo mundo. Globalizamos opiniões e rapidamente damos respostas. Queremos respeito. Pense nisso ao pensar no seu voto, esse ano. Lembre-se que todos queremos Saúde para evoluir, viver e progredir. O mundo, ao crescer exigirá posturas determinantes para garantir Saúde para Todos. E você, tem muito o que colaborar...pois consciente ou não, isso faz parte dos sesu desejos mais intímos !

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