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Publicado: Sexta-feira, 27 de junho de 2008

São Paulo Apóstolo

Inicia-se neste sábado, 28 de junho, o Ano Paulino em todas as partes do mundo. A feliz iniciativa de Bento XVI tem caráter ecumênico, pois a literatura bíblica de Paulo Apóstolo é acolhida por todas as correntes cristãs.
 
Quem foi Paulo? Um dos maiores cristãos dos primeiros tempos, um homem escolhido por Deus para divulgar a fé cristã além das fronteiras judaicas.
 
Nasceu em Tarso, entre os anos 5 e 10 d.C., e faleceu em Roma, entre os anos 64 e 67, decapitado por perseguição religiosa, na mesma ocasião do martírio de São Pedro Apóstolo, que, por sua vez, foi crucificado de cabeça para baixo naquela mesma cidade. Os restos mortais de Paulo se encontram na basílica erguida em sua memória, em Roma, fora dos muros.
 
São Paulo foi um verdadeiro intelectual que, entre muitos serviços prestados à Igreja, possibilitou a penetração da Palavra de Cristo nos meios cultos da época e fez a tradução da linguagem camponesa presente nos Evangelhos para a linguagem urbana das grandes cidades seja do mundo helênico, romano ou hebraico.
 
É, sobretudo, um convertido.
 
A conversão de Paulo foi um ato tão extraordinário e tão radical que é narrada três vezes por Lucas nos Atos dos Apóstolos (cf. At 9,1-19; 22,5-16; 26,9-18). Em nenhuma destas narrativas fala-se em “cair do cavalo”, como popularmente se diz, mas a expressão pode, simbolicamente, significar bem o fato.
 
Caiu de si mesmo, deixou de ter atitudes irracionais, venceu seu próprio orgulho. De fariseu bem informado, bom conhecedor da doutrina judaica, formado na famosa escola de Gamaliel, em Jerusalém, Paulo passa a aderir totalmente à fé cristã, depois de ter perseguido os seguidores de Cristo. Foi aos pés de Paulo que depositaram as vestes do santo diácono Estêvão a quem, apedrejaram até à morte, o que indica ter sido ele o chefe da expedição (At 7,54-59).
 
Orador e escritor, a partir de determinado ponto do caminho, algo extraordinário revela a sua insensatez e ele toma a resolução da “metanóia”, converte-se. Foi capaz de uma transformação radical e perpétua. O fato é narrado por Lucas e por ele mesmo, praticamente com os mesmos termos.
 
Fala de uma luz fortíssima que viu na estrada de Damasco, a ponto de cegar-lhe os olhos por alguns dias e de uma voz que lhe dizia “Saulo, Saulo, por que tu me persegues?” (At 9,4). Seu primeiro encontro com os cristãos se deu na cidade de Damasco, para onde foi levado, ao perder a vista, e onde encontrou Ananias, cristão convicto que lhe impôs as mãos e lhe revelou que Deus o escolhera para especial missão.
 
Recuperando a vista, a partir de então, torna-se verdadeiro Apóstolo, autêntico missionário que propagou, na primeira hora, o cristianismo para terras longínquas e culturas diversas.
 
A conversão de Paulo foi, como todas as conversões, um ato de humildade e coragem ao mesmo tempo. Assim pôde dizer: “Sou o menor dos apóstolos, e não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus” (1Cor 15,9). Diante da evidência, humilhou-se pelos erros que vinha cometendo, reconheceu-os e mudou seu comportamento de uma vez por todas.
 
A conversão é um ato do espírito, mas que envolve a razão, pois não há como separar uma coisa da outra. De forma inteligente, viu seus enganos e reorientou sua vida aderindo à doutrina dos Apóstolos.
 
A conversão, como todas as conversões, foi um ato da graça divina, como ele mesmo explicita ao falar de si. Porém, toda graça deve ser acolhida, e ele a acolheu com exemplar determinação, como afirma: “Pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que ele me deu não tem sido inútil” (1Cor 15,10).
 
Sem dúvida, impressionam as grandes dificuldades pelas quais teve que passar após sua adesão a Cristo, o que prova, por si só, a autenticidade de sua conversão. Foi incompreendido por muitos judeus, perseguido, levado a tribunais como um criminoso, preso por várias vezes, açoitado e humilhado. Sofreu naufrágio, passou fome e frio. Teve que se esconder e teve que, às vezes, fugir. Porém, nada o fez voltar atrás e nem, muito menos, abandonar sua missão em favor de Cristo Senhor.
 
Como todos os convertidos, Paulo não ficou livre de perigos, tentações e fragilidades, como narra: “Não entendo, absolutamente, o que faço, pois não faço o que quero; faço o que aborreço... Mas, então, não sou eu que o faço, mas o pecado que em mim habita... Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem, porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero” (Rom 7,17.19).
 
É muito animador haurir das cartas de Paulo a confiança absoluta em Deus, em sua assistência, sobretudo nos momentos de provação e de fragilidade. Por isso soube ouvir a voz de Deus que lhe dizia: “Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força” (2Cor 12,9). De sua parte, conclui como resposta a esta certeza de fé, com a afirmação: “Prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte” (ibdem).
 
Paulo era um homem corajoso, forte, destemido. Capaz de enfrentar magistrados, mestres e filósofos. Mas ao mesmo tempo sabe que sua sabedoria não seria nada se
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