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Publicado: Quinta-feira, 6 de setembro de 2007

São Gil, um santo desconhecido

Celebrando o dia litúrgico de São Gil a 1º de setembro, desejo fazer breve homenagem ao santo de quem, na pia batismal, tive a graça de receber o nome. Trata-se de um santo desconhecido da maioria da população brasileira, porém venerado e muito amado no sul da França e em outras partes da Europa.
 
Para cumprir um velho sonho, em julho passado, na peregrinação que fiz à Terra Santa, incluí no roteiro uma visita a seu santuário, na cidade de Saint Gilles, pequena urbs de não mais que vinte mil habitantes, na região francesa de La Provence, Diocese de Nîmes, nas proximidades de Avinhão.
 
Posicionado sob uma colina, o lugar hoje é constituído de um arruado originariamente medieval, mas com adaptações modernas que lhe dão um agradável aspecto e oferece aprazível permanência aos visitantes. A Paróquia tem sua sede na igreja de estilo românico, construção do século décimo, contando hoje, portanto mais de mil anos.
 
É uma arrojada edificação, toda em cantaria de pedras claras, realizada em dois níveis, guardando na navata inferior o túmulo do santo, aonde muitos peregrinos vão orar confiantes. Mas quem foi este santo de nome raro e história tão incógnita?
 
Gil, ou Egídio (são duas traduções do mesmo nome de origem helênica Aegydios) nasceu em Atenas, na Grécia, no século 6º, filho de uma família da estirpe real de quem recebeu desde a infância boa formação acadêmica e sólida instrução cristã.
 
Em Atenas vivia tão intensamente sua fé, venerando de modo singular a graça batismal, dedicado à oração e à caridade, que ainda jovem tomou a fama de ser uma alma de Deus, um verdadeiro santo. Conta-se que certa vez, indo à igreja, encontrou um doente que pedia esmolas e atendeu-o com admirável amor, deu-lhe sua própria capa, enquanto rezava a Deus pelo alívio de seus sofrimentos, ficando o doente, de imediato, curado por Deus.
 
O fato se propagou, outros se sucederam e crescia sua fama. Desejando muito ir a Roma ver o túmulo de Pedro e o Sucessor do Apóstolo, o fez piedosamente e não quis voltar para sua terra, a fim de fugir de qualquer honraria humana que pudesse manchar-lhe o espírito.
 
Foi para Arles, no sul da França, onde viveu por dois anos em companhia de São Cesário, bispo da cidade. Depois, buscando a vida eremítica, ainda morou com o santo monge Veredômio por algum tempo, e em seguida escolheu viver numa gruta isolada, dedicando-se única e exclusivamente à vida de contemplação, estudo da Palavra de Deus e prática da caridade.
 
Totalmente desapegado dos bens materiais, vivia o jovem em união com Deus, exemplar castidade e a acudir os pobres. Para seu sustento diário, domesticou uma gazela de quem se nutria com o leite.
 
Certo dia, o rei Wamba, caçando na região, sem saber da existência daquele homem de Deus, perseguiu aquele bom aninma que se refugiou na gruta aos pés do eremita. Uma flecha disparada pelo rei atingiu o venerando homem. O rei o encontrou na gruta envolto em seu hábito monacal, ferido com a gazela reclinada sobre os joelhos.
 
Em diálogo com o santo eremita, logo se pôs a respeitar e a admirar sua grande sabedoria e sua santidade pessoal. O rei passou a visitá-lo freqüentemente, e com sensível acatamento acolhia seus conselhos. Mesmo após a relutância do eremita, que nunca quis receber nenhum presente, o rei fez construir ali um mosteiro e insistiu com ele que fosse seu abade e iniciasse uma nova ordem monástica para acolher jovens e salvá-los da vida de perdição.
 
Em humilde obediência, aceitou Gil ser ordenado sacerdote e, investido com a dignidade abacial, recebeu os primeiros monges que foram se multiplicando pelos anos seguintes. Outro rei, chamado Carlos, também aprendeu a venerar a sua vida edificante.
 
Certo dia, mandou chamá-lo em palácio e o recebeu com reverência. Pediu-lhe insistente e angustiadamente que rezasse pela sua salvação, pois havia cometido um crime que não tinha coragem de dizer a ninguém e nem mesmo a um confessor. Vendo-o apavorado e sem discernimento, pôs-se em oração pelas intenções do rei.
 
No domingo seguinte, quando celebrava a Missa, Gil presenciou achegar-se um anjo ao altar e repor sobre ele um papel no qual estava escrito que, pelas orações do santo Abade Gil, o pecado do rei estaria perdoado, desde que se penitenciasse, se confessasse e não mais o repetisse. Entregou o papel ao rei que reconheceu o seu pecado, fez sua confissão sacramental e se converteu sincera e radicalmente.
 
Em meados do século 7º, veio a falecer aquele santo ancião e foi sepultado na colina de sua predileção, onde se encontrava sua gruta cujo local passou a ser venerado pelos seus monges e a gente da região.
 
Como a localidade se encontrava em ponto geográfico privilegiado da rota dos peregrinos que desciam do norte da Euro
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