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Publicado: Terça-feira, 7 de abril de 2009

Saber é Poder

Saber é Poder
Ninguém gosta de andar por aí de olhos vendados
Lembro-me vagamente da história – ou seria lenda? – a respeito do poder que há no conhecimento, que me contaram há uns anos, torcendo para que eu me lembrasse dela e, se tivesse sorte, aprendesse algo.
 
Aconteceu há muito tempo, no Egito Antigo, no auge de sua produção e construção, numa época em que o número de escravos era abundante - e os castigos, fome e sede ainda mais. Lá, houve o que poderíamos chamar hoje de greve. Os escravos eram muitos e precisava-se resolver o problema, fazê-los voltar ao trabalho, sem começar uma batalha com eles, que estavam em visível vantagem numerosa.
 
Os sacerdotes, homens de magia e ciência, foram os que resolveram o problema, mais rápida e eficientemente do que imaginaria o mais sábio dos faraós. Com seus cálculos e informações, das quais os pobres escravos não faziam nem ideia, orientaram o Faraó, um Deus e representante dos Deuses, para que ameaçasse seus escravos. E ele o fez, dizendo que, a menos que voltassem ao trabalho, o Sol desapareceria para sempre por ordem e poder a ele conferidos.
 
Só acreditaram e retornaram às suas vidas submissas quando, como disseram os homens estudados à seu Faraó, e ele ao povo, o Sol começou a desaparecer, deixando que a sombra dominasse a terra. Claro que o eclipse não fora obra da fúria do governante vitalício e hereditário das terras do Nilo, tampouco da magia dos homens. Mas os escravos não sabiam disso. E nada puderam fazer contra aqueles que lhes eram superiormente sábios – e espertos – e que detinham outro meio de dominação, alem das chicotadas e ameaças: a informação.
 
Apesar da velocidade com as informações chegam até nós e da facilidade com que isso acontece, em pleno século XXI, há quem mantenha intacta a ignorância e a venda nos olhos, mesmo sabendo que há quem se aproveite da situação, guiando-os por caminhos que, quase sempre, só são promissores aos guias, nunca aos guiados. De políticos à emissoras de televisão, de falsas instituições à grandes anúncios de produtos que compramos sem nem saber o que fazer com eles.
 
É importante que saibamos que a culpa de sermos controlados, e enganados, é exclusivamente nossa. Seja por quem, ou o que, for. Se nos mantemos desinteressados, inertes, resignados, simplesmente deixando que ajam por nós – e essa é uma, talvez a única, escolha que ninguém pode fazer em nosso lugar – então, não há meios: somos enganados, controlados, passados para trás.
 
Continuamos perdedores. Ai do técnico do nosso time do coração se não agir, não trocar aquele jogador que está com baixo desempenho, atrapalhando as jogadas e nos fazendo perder. Ele, como nosso representante perante o time, deve fazer o necessário para obter o melhor. E, para isso, é preciso ver. É preciso saber. Ter noção da gravidade do problema, das suas causas e, principalmente, das suas conseqüências. Entretanto, apesar de esperar e cobrar essa atitude das outras pessoas nós, nossos próprios representantes perante o mundo, nossos próprios técnicos, ainda não levantamos nossa voz. Não porque não seja essa nossa vontade - ninguém gosta de andar por aí de olhos vendados – mas talvez porque não aprendemos a questionar, a duvidar e a atualizar nossas informações.
 
Uma pessoa que sabe ler não pode ser enganada sobre o conteúdo de uma carta, assim como aquela que conhece os números e o valor do dinheiro e das coisas não pagará, em momento algum, mais do que um produto realmente custa. E isso é tão óbvio que assusta como essas coisas continuam acontecendo no mundo e, com muito mais relevância e preocupação, no Brasil. E a solução é tão estupidamente simples, que devia ser uma vergonha não a termos adotado: informar-se. Dotar-se com as mesmas munições da outras pessoas, e se equivaler a elas, de forma que não se deixa mais levar por dados sobre os quais não se tem conhecimento.
 
A partir do momento que se possui um conhecimento sobre as coisas que nos cercam e se dá atenção aos detalhes dos acontecimentos, conseguimos opinar sobre eles, visando uma melhora na sua realização ou crítica e, também, avaliar a posição dos outros com sabedoria.
 
E para isso só é necessário um pouco mais de interesse, de preocupação consigo e com o mundo. Não é pedir muito, é?
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