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Publicado: Segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Rumos do Concílio Vaticano II

Em 25 de janeiro de 1959, meses depois de sua eleição, o Papa João XXIII tornou pública a sua intenção de convocar um novo Concílio, reunindo o episcopado mundial. Todos, até mesmo os Cardeais que acabavam de concelebrar com ele a festa da conversão do Apóstolo Paulo, foram tomados de uma agradável surpresa.

Passado o primeiro momento de indagações, João XXIII foi esclarecendo os grandes objetivos que o levaram à convocação do Concílio Vaticano II. O primeiro se realizara no pontificado do Beato Pio IX, na segunda metade do século 19, em momento tempestuoso para a Igreja. Ângelo Roncalli afirmava que seria um Concílio marcadamente pastoral, em que aconteceria “novo Pentecostes”. A Igreja faria na grande assembléia um “aggiornamento” e iniciaria um processo de atualização, sacudindo de sua face a poeira dos séculos, rejuvenescendo-se para um maior empenho na evangelização, missão que lhe confiara o próprio Cristo.

Por quase três anos uma Comissão de alto nível entregou-se à preparação do Concílio e da primeira redação dos documentos sobre os quais iriam debruçar-se cerca de 2150 bispos de todo o mundo. Presidida por João XXIII, a primeira sessão conciliar prolongou-se de setembro a outubro de 1962. Por decisão do grande Papa, ao lado dos Padres Sinodais estavam diversos líderes das Igrejas ortodoxas do Oriente e de Igrejas protestantes históricas do Ocidente. Seriam “observadores” com direito à palavra.

Bem depressa ficou público que, entre os Padres Conciliares e seus Assessores, duas tendências procurariam dar aos documentos refeitos e às decisões do Vaticano II os enfoques próprios, tanto teológicos quanto pastorais e disciplinares. Os que pudemos assistir, embora distantes, o desenvolvimento da grande assembléia, reconvocada em 1963 pelo Papa Paulo VI, que a presidiria até o fim, em 1965, promulgando as suas Constituições, Declarações e Decretos, 16 ao todo, nos impressionamos com as votações finais, em geral aprovadas quase plebiscitariamente, com 5 a 10 votos contrários e alguns nulos. O Espírito Santo atuou de modo sensível e impressionante durante todo o Concílio!

Em dezembro próximo estaremos celebrando os 40 anos do Concílio. Em toda a Igreja vêm sendo promovidos Seminários, Encontros e Conferências, reflexões e debates sobre o Concílio em geral ou sobre algum dos seus documentos. É um momento de ação de graças por tudo o que aconteceu na Igreja após o Vaticano II. Sendo a mesma Igreja em sua organização e missão, as mudanças de diretrizes pastorais e os novos enfoques teológicos são notáveis. Paulo VI, João Paulo II e agora Bento XVI, seguirão adiante. O novo Papa, que aliás participou como teólogo do Concílio, assessorando o episcopado alemão, comprometeu-se publicamente a dar prosseguimento às orientações do Vaticano II sem releituras discutíveis, como fazem alguns. Ninguém como ele está preparado para o fazer, como qualificado teólogo e maior Pastor da Igreja.

Sucedem-se as publicações sobre os documentos do Concílio Vaticano II, algumas como as recentes de Paulo César Barros, divulgadas pela Revista Convergência, na edição de julho/agosto passados. Insiste ele em que a fidelidade ao Vaticano II exige que a Igreja seja sempre mais servidora e prossiga valorizando tanto a colegialidade episcopal quanto o ecumenismo, inserida no mundo sem ser do mundo, empenhada na evangelização, sua missão própria e respondendo aos atuais e futuros desafios à luz dos eternos valores da revelação cristã.

Os que continuam sonhando com um novo Concílio Ecumênico a ser realizado fora de Roma, em linhas “sinodais” com atribuições deliberativas, adatando a vida da Igreja ao que lhes parece melhor – menor autoridade dos Sucessores de Pedro, maior autonomia das Conferências Episcopais e das Igrejas Particulares, reavaliação da ordenação presbiteral de mulheres, maior envolvimento com o social e o político – moderem-se, ficando em seu devido lugar. A Igreja do Concílio Vaticano II, como a define a Constituição Dogmática “Lumen Gentium – Luz dos Povos” e a Constituição Pastoral “Gaudium et Spes – Alegria e Esperança”, é e continuará fiel aos valores e à doutrina de Cristo e dos Apóstolos. Acima de tudo será uma comunidade evangelizadora, fiel ao mandato missionário de Cristo: “Indo pelo mundo preguem o Evangelho, ensinando tudo que eu vos mandei! Estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos!”.

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