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Publicado: Sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Revendo o arquivo morto

Vez ou outra percorremos o passado, quem sabe para matar as saudades. Com olhos abertos ou fechados, sintonizamos, na memória, passagens belíssimas que vivêramos (belíssimas porque se foram e porque se encontram arquivadas).

Irradiam, como quê, suave fundo musical; são imateriais; não as podemos tocar ou segurá-las... Em face da racionalidade queremos transformá-las em momento presente, mas é impossível. Então quereríamos, ao menos, contactar as pessoas, os objetos ou as cenas que integraram esse contexto inenarrável.

Muitas pessoas, como o tempo decorrido é longo, não fazem mais parte deste mundo. Uma ou outra  talvez ainda exista. Seria viável contacto para relembrar aqueles agradáveis ou belíssimos momentos? (Não se trata de espiritismo).

E se se encontrasse essa ou aquela pessoa e ela de nada se lembrasse ou apenas dissesse: “foi um belo tempo"! Então passaríamos a procurar objetos - escritos da época ou fotos - e constataríamos  realidade diferente: estávamos ou éramos magros, jovens, sonhadores, mais alegres e esperançosos...

Naquele tempo se sonhava diferentemente do que parece  acontecer hoje. O jovem almejava  seguir uma carreira,  constituir um lar e ser muito feliz (mais do que era), acreditando que estudando suas chances de melhoria econômica seriam enormes e reais.

A jovem ambicionava ser professora, quem sabe alcançar a Universidade, mas sobretudo encontrar o príncipe encantado de sua vida aquela outra metade que completaria seus ideais, configurado sobretudo na maternidade. Nos tempos atuais não é mais assim.

O romantismo foi embora e a impressão que se tem é de que os jovens se encontram indefinidos e o amor - aquela maravilhosa força impulsionadora que faz o homem abandonar os pais para se unir à sua mulher para constituir nova família - se encontra desfigurado, enfraquecido, ausente ou encoberto.

Restou-nos, pois, de salutar o arquivo da memória que não se pode registrar em filme, tampouco na tela do computador. Acompanhar-nos-á sempre e talvez funcione em dias nublados ou chuvosos ou quando cansados ou entediados da rotina diária religarmos o botão da memória.

Bondade e beleza. Se esses dois valores morais de há muito fossem perseguidos com insistência e difundidos cotidianamente, especialmente pela mídia eletrônica -ao invés da nojenta criminalidade que esparge pestilência por todos os cantos- a vida, hoje, sem dúvida, seria mais bela e consultar e rever o arquivo morto de fatos ou episódios já vividos constituiria sempre imenso prazer.

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