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Publicado: Quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Resposta aos filhos

Crédito: Álbum de família Resposta aos filhos
No final, serão suas imagens, só suas...

                Vocês me perguntam sobre o caminho, mas que posso lhes dizer?

                Eu só posso traçar o meu próprio caminho, cada ser humano só pode traçar seu próprio caminho, mesmo que se assemelhe a caminhos de outrem. E meu caminho é único, desde o início foi exclusivo.  É assim, e sempre será assim.

                Mesmo que queiram escolher nosso caminho (e sempre querem!), a escolha final é nossa, só nossa!

                Eu poderia lhes falar de tantas coisas, de Etiqueta, Comportamento, leituras mil, de Religião, de Cultura, Educação, do avançar e do retroceder; Poderia lhes falar dos tropeços e das inúmeras quedas, e do levantar e seguir em frente, poderia, enfim, lhes falar de tantas coisas... Mas sempre estaria falando de mim, sempre estaria falando do meu caminho, das imagens que coletei, das descobertas que fiz, das cores que minhas retinas obnubiladas, poluídas pelo tempo, captaram.

                Jamais poderia lhes falar de suas escolhas, dos caminhos que irão trilhar por vontade própria.

                Não! Mesmo que o quisesse, e este é o impulso, mesmo que o quisesse, a escolha seria, no final do dia, única e exclusiva de vocês, de cada um de vocês.

                Não há responsáveis, e não há a quem responsabilizar por nossas escolhas.

                Etiquetas, comportamentos, leituras, educação, religião. Mas, afinal, o que significam estes termos, senão a expressão clara de minha vontade sobre a vontade de meus semelhantes? Senão o desejo de que sejam cópias fiéis, acariciando meu ego vida adentro, gerações pós-gerações?

                O que é “educar um rio”, senão retirar-lhe as curvas, para que siga sempre em linha reta? O que é “ajustar seu leito”, senão impedir que se espraie, deturpando assim sua natureza?

                E mesmo assim ele avança! E mesmo assim ele insiste, persiste, avança e se espraia!

                Para quê podamos uma árvore, senão na vã esperança de que se molde aos nossos padrões?

                Mas seus galhos teimosos insistem, persistem, e invadem as ruas, entram pelos espaços abertos nos tantos e quantos muros, se acomodam entre os fios, e alçam aos céus, à busca da luz.

                Os galhos vão à busca da luz, à sua maneira, não à nossa; Se esticam aos céus com seu jeito desengonçado de ser, naquele jeito maravilhoso de serem desengonçados, sem se importarem com nossas tesouras.

                Não! Não posso lhes ensinar o caminho, não posso lhes sugerir um caminho. Posso, quando muito, e se tanto, lhes mostrar o caminho, lhes deixar sentir o pulsar de meu coração ao caminhar, respirar o perfume de minhas flores,  visualizar as imagens que coletei.

                – Mas serão sempre minhas imagens. Vocês irão captá-las à vossa maneira, com seus próprios olhos. Serão, portanto, vossas imagens do caminho.

                Posso, isso sim, sentar-me ao vosso lado, na relva, e, em silêncio, olhar o céu, contar estrelas,  testemunhar o raiar de um novo dia, de cada amanhecer.

                Mas cada um de nós terá sua estrela, cada um de nós sentirá o perfume do campo à sua maneira.

                Houve um tempo em que compreendia que podia aprisionar o rio, moldar a árvore, mostrar a alguém a mesma estrela. Sim, houve um tempo, mas este tempo ficou distante, distante. Percebi, depois de tantas enchentes, depois de tantas primaveras, depois de tantas fases da lua, depois de tantas noites tenebrosas, que não posso. 

                Quando muito posso caminhar com vocês como eternos companheiros, vivendo e convivendo no mesmo espaço, embaixo de um mesmo céu, nem sempre azul, mas um mesmo céu.

                 Eternos mutantes dividindo um mesmo espaço, eternos companheiros unidos pela mesma Mãe Natureza, unidos pelo mesmo sentido de liberdade presente nos rios, nas árvores, no vôo dos pássaros, e no pulsar de nossos corações.

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