Relações entre o homem e os seres vivos
Diversos organismos acompanham os indivíduos da espécie humana como “hóspedes indesejáveis”. Neste grupo, além dos parasitas, estão diversos animais (baratas, moscas, camundongos, ratos) que, atraídos pelas moradias humanas, tornaram-se comensais ou inquilinos do homem.
Provavelmente, esse inquilinismo é tão antigo quanto os primeiros abrigos utilizados pelos grupos humanos, ainda na antiga Idade da Pedra.
Quando o homem abandonou a vida nômade e passou a plantar e a criar animais para obter alimento, deve ter tomado, simultaneamente, duas medidas: construir abrigos, mais ou menos próximos uns dos outros, para instalar os componentes do grupo, e limpar a área destinada ao plantio. A primeira dessas medidas provavelmente aumentou o número de “hóspedes indesejáveis”; a segunda propiciou a invasão do novo hábitat por uma série de plantas acompanhadas por animais que delas dependem. Essas invasoras são as “ervas daninhas”, raras nas comunidades biológicas estáveis, mas constituindo verdadeiras pragas nas comunidades agrícolas.
As ervas daninhas são, na realidade, “oportunistas”, organismos que, de repente, encontram oportunidades de se desenvolver porque o homem interferiu na estrutura da comunidade anterior. Embora essa denominação também possa ser aplicada aos inquilinos, organismos que são atraídos para os abrigos humanos, esta é uma relação mais íntima: camundongos são inquilinos; pardais e dentes-de-leão são oportunistas. Se os inquilinos e oportunistas são indesejáveis, os cultígenos são organismos que o homem seleciona, mantém, defende e propaga. A relação entre ele e cada tipo de organismo que cultiva ou cria – microorganismos, vegetais e animais – pode ser classificada como mutualismo. Isto porque há uma dependência mútua e estreita entre o homem e o cultígeno. É este o único caso de mutualismo desenvolvido em um período relativamente curto – alguns milhares de anos. Nesse período, se o homem não sofreu nenhuma modificação biológica importante, as espécies cultivadas ou domesticadas mudaram muito, tornando-se completamente dependentes do homem. O milho é um bom exemplo: deixaria de existir sem o homem para debulhar suas espigas e plantar os grãos.
Entre os insetos sociais, há casos de interdependência análogos aos que existem entre a espécie humana e seus cultígenos. Um exemplo interessante é encontrado entre as saúvas e certos fungos que lhes servem de alimento. Essas formigas são as maiores pragas da lavoura, em muitas regiões da América tropical, porque cortam folhas das plantas em pedacinhos, transportando-os para o formigueiro. Essas folhas, elas não comem; depositam em câmaras especiais e sobre elas se desenvolve um fungo; este sim é o alimento das formigas. Uma casta especial de operárias constitui os “lavradores” do formigueiro, cuidando do jardim de fungos e impedindo que organismos indesejáveis cresçam entre os cultivados. Quando uma nova rainha sai do formigueiro, no vôo nupcial, para formar um novo ninho, leva consigo (em bolsas que tem na cavidade bucal) pequenas porções de fungo, a partir das quais vai-se formar a cultura da nova colônia.
As saúvas dependem inteiramente do fungo que cultivam – seu único alimento. Essa espécie de fungo também depende dessas formigas, uma vez que só é encontrado em seus formigueiros. Há boa razão para se supor que essa associação seja muito antiga: formigas fossilizadas do Oligoceno (época geológica que ocorreu há cerca de 40 milhões de anos) são iguais às atuais e, se não há diferença na aparência, pode-se supor que também não haja no comportamento.
Se a relação entre as saúvas e o fungo de que se alimentam é hereditária, a mesma coisa não acontece entre o homem e os cultígenos: seu comportamento como agricultor, pastor ou domesticador de animais é inteiramente adquirido. O homem aprendeu e aprende a plantar e a cuidar de animais e esse aprendizado é transmitido e aperfeiçoado de geração em geração.