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Publicado: Segunda-feira, 21 de junho de 2004

Reino de Deus, Reino dos Céus

O “Dicionário Enciclopédico da Bíblia”, organizado pelo Doutor A.Van der Born, traduzido pela Editora Vozes, de Petrópolis, é monumental com as suas 1588 colunas. No verbete “Reino de Deus”, que se estende por sete densas e substanciosas colunas, há referências ao sentido das expressões “realeza”, “Reino de Deus” e “Reino dos céus” nas religiões do Oriente Antigo, entre sumerianos, acádicos, cananeus e fenícios. No Antigo Testamento a referida expressão se encontra no livro da Sabedoria (10,10), equivalendo a “Reino de Javé” e, também, em alguns Salmos e textos proféticos durante e após o exílio dos judeus.

“A concepção de Javé como Rei, inicialmente não ocupou lugar importante no pensamento religioso de Israel. O uso mais freqüente desse título só começa a partir do cativeiro”, lê-se no Dicionário Bíblico. Antes do reinado de Saul e Davi o povo judeu tinha poucas informações sobre o sentido de realeza e monarquia, não atribuindo a Javé o título de rei. O profeta Isaías chamou Javé de Rei (6,5). O título de “Javé dos exércitos”, em certo sentido lembrava a realeza de Deus na mentalidade do povo judeu.

Aplicado a Javé o título de rei sugeria a sua grandeza, determinando o culto que lhe era devido e, também, a relação de Javé com o seu povo. Javé é o “Rei de Israel” mais que os reis que o governavam. Davi e os numerosos reis que o sucederam em Israel, assentavam-se no trono régio de Javé. “Javé mostra-se Rei do seu povo, governa efetivamente, dando-lhe a paz, a felicidade e a salvação” (Is 52,7). Além do sentido soteriológico, ou de redenção, a expressão tem, também, uma freqüente conotação escatológica, lembrando o Reino definitivo e universal de Deus no fim dos tempos.

A idéia do Reino de Deus é, portanto, tipicamente do Novo Testamento, tornando-se um dos temas centrais da pregação de Cristo. Corresponde ao grego “basiléia”, aparecendo 39 vezes no Evangelho de São Lucas e 14 no de São Marcos. Em São Mateus a expressão correspondente é “Reino dos céus”, que aparece 32 vezes, acentuando que o Reino de Deus “não é um reino terrestre, mas transcendental, vindo do céu”. Mateus coloca, também, nos lábios de Cristo a expressão “Reino do Pai” (6,10).

João Batista refere-se à proximidade do Reino de Deus exortando os seus discípulos à conversão. Na pregação de Jesus é que a referência ao Reino de Deus se torna freqüente. Faz parte integrante da sua missão instaurar o Reino de Deus e proclamar os seus valores. Usando de diversas e belíssimas parábolas, como a da pérola preciosa, a do joio e do trigo e outras. Segundo o Nazareno, o Reino de Deus deve ser aceito sempre como uma criança, devendo produzir bons frutos. Os pobres em seu coração são bem-aventurados porque possuirão o Reino de Deus. Por outro lado, os publicanos e prostitutas, precederão (sic!) os fariseus hipócritas no Reino de Deus. Em todo caso, a conversão que exige mudança de mentalidade e vida, é condição necessária para entrar no Reino de Deus. Seus frutos serão a prática das obras de misericórdia, a observância dos mandamentos da Lei de Deus, o amor, a justiça e a paz.

Em geral o Reino de Deus é “objeto de desejos e esperanças — afirma o Dicionário Bíblico — mas alguns textos fazem supor que já chegou. Jesus começa a sua vida pública com a declaração de que o Reino de Deus se aproximou” (Mc 12, 28; Lc 10, 9-11). “O Reino de Deus, portanto, tem duas fases: uma atual, escondida e humilde e outra futura, em glória e esplendor. Essa dualidade - destacada na coluna 1294 - forma o assunto das parábolas sobre o Reino, que vem singelo na palavra de Jesus”. A algumas dessas parábolas iremos nos referir mais adiante em outro artigo.

Enquanto caminha no tempo e na história a Igreja é, sem dúvida, o grande espaço do Reino de Deus. Porém, enquanto escatológico será definitivo e perfeito somente depois da segunda vinda do Senhor. Recorde o leitor ser muito importante o que disse Cristo ao Apóstolo Pedro: “Eu te darei as chaves do Reino dos céus” (MT 16,19). E durante a sua agonia no Calvário, o que prometeu a Dimas, o bom ladrão, que lhe suplicava se lembrasse dele entrando em seu Reino: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”. A Igreja, destaca o Dicionário Bíblico, é “o organismo no qual e pelo qual Cristo recolhe (os seus seguidores), aos quais o Pai quer dar o Reino, tesouro que compensa sobejamente o abandono de todos os bens terrenos”.

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