Colunistas

Publicado: Quarta-feira, 13 de outubro de 2004

Reflexões após o primeiro turno

Quando mais de 110 milhões de eleitores vão às urnas, sem qualquer incidente maior, é para agradecer a Deus. Ano após ano, eleição após eleição, a democracia brasileira vai se firmando. Tranqüilamente podemos dizer que o eleitorado brasileiro amadureceu. Nossa democracia caminha para melhor e disso demos prova no primeiro turno dia 03 de outubro. O segundo turno em 16 capitais, dia 31 próximo, deverá confirmar essas impressões dos analistas políticos mais qualificados.

O novo quadro político nacional é, certamente, diferente tanto no Estado de São Paulo quando nos demais Estados da Federação. Aqui entre nós, acabou firmando-se a inegável liderança do Governador Geraldo Alckmin, tanto na capital quanto nas maiores cidades interioranas: Campinas e Jundiaí, São José dos Campos, Piracicaba e Franca. O PSDB fez 191 prefeitos, eleitos por 6 milhões e 800 mil eleitores. O PT elegeu 53 chefes de Executivo no primeiro turno, podendo vir a eleger outros seis mais adiante. Recebeu o total de 5 milhões e 400 mil votos. O PMDB conseguiu eleger 88 prefeitos, podendo vir a ter outros dois no segundo turno. Os votos desse Partido somam apenas 1 milhão e 400 mil eleitores de cidades de porte menor.

Em nenhuma cidade como a capital, São Paulo, a disputa partidária entre José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (PT), agora Marta Favre, foi tão renhida. Serra chegou em primeiro lugar contando com o apoio do Governador Geraldo Alckmin, atingindo 44% dos votos. Marta, jogando com toda a máquina do município que administra e investimentos jamais vistos em qualquer outra eleição, obteve 36% dos votos. Como a rejeição à sua pessoa é bem maior que a de Serra, tudo pressagia que será derrotada por ele no segundo turno. O Presidente Lula, de um lado, e o Governador Alckmin, doutro, irão empenhar-se a fundo, até porque quem for eleito Prefeito da maior cidade do país, antecipa os embates e resultados da eleição majoritária de 2006 para a Presidência da República.

A vitória de César Maia, no Rio de Janeiro, já no primeiro turno, para um novo mandato como Prefeito da segunda maior cidade brasileira, tem um significado especial. Católico praticante derrotou, com boa diferença, o Senador Marcello Crivella, da Igreja Universal do Reino. É sabido que essa Igreja envolveu-se o máximo possível, sonhando com a possibilidade de mais adiante poder concorrer ao Governo do Estado e à Presidência da Federação. Edir Macedo e sua Igreja têm ambicioso projeto de poder, deixando a impressão de estar mais interessado no reino dos homens que no Reino de Deus...

Nos demais Estados brasileiros, o Partido dos Trabalhadores elegeu os Prefeitos de Recife e Maceió, Palmas e Belo Horizonte, podendo no segundo turno conquistar outras importantes administrações municipais. Serão decisivos os resultados em Fortaleza e Goiânia, Salvador, Porto Alegre, Curitiba e outras capitais. Os resultados gerais destas eleições antecipam o fortalecimento tanto do PT quanto do PSDB.

A partir destas últimas eleições vão se esfumaçando, rapidamente, as lideranças de José Sarney no Maranhão, de Antonio Carlos Magalhães na Bahia, de Antony Garotinho no Rio de Janeiro e de Paulo Maluf em São Paulo. O que não é bom para eles, sendo bom para o Brasil é que, eleição após eleição, vamos tendo um eleitorado sempre menos manipulável por tradicionais “coronéis” e “caciques”.

A Igreja Católica, mais uma vez, optou por insistir no cumprimento dos direitos e deveres dos cidadãos votarem, fazendo-o livre, consciente e responsavelmente. Deixando de lado alguns poucos posicionamentos mais claros e objetivos, como nas cidades que compõem a Arquidiocese de Botucatu, os Grupos de Fé e Política promoveram Mesas Redondas, Palestras e outras iniciativas, tendo em vista a maior conscientização do eleitorado, quanto aos projetos e compromissos dos candidatos aos Executivos municipais. Para os Legislativos, tão ou mais importantes que os Executivos, tanto a CNBB quanto Cardeais, Arcebispos e Bispos mais participantes do processo eleitoral, vieram insistindo na opção, pelos eleitores, dos melhores candidatos, a saber, dos mais honestos e competentes, dos mais sensíveis ao drama das periferias urbanas, dos favelados, moradores de rua e marginalizados em geral.

Mais alguns dias a nova situação política brasileira estará definida de norte a sul do Brasil. No início do Ano Novo estarão sendo empossados os nossos Vereadores – felizmente menos que nas legislaturas passadas – e os novos Prefeitos. Dependerão deles os quatro próximos quatro anos da vida dos nossos municípios e o futuro do Brasil. Coloquemo-nos em oração, pedindo a Deus para todos os novos governantes, a sabedoria e a vontade política na solução dos graves problemas que nos afligem: o desemprego e a insegurança, a falta de moradias populares e a agitação nos campos, os problemas de saúde, educação e marginalidade social. Temos tudo para superar esses graves problemas que envolvem cerca de 40 milhões de nosso sofrido povo, da Amazônia e Nordeste, das periferias urbanas de nossas megalópoles, em que se multiplicam imundas favelas e favelados, em condições sub-humanas, multiplicando-se os menores e moradores de rua, caminhando sem rumo e sem esperança de um futuro melhor.

Comentários