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Publicado: Segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Refazendo os Laços

Isaura e Solange eram duas professoras recém formadas que foram lecionar numa escola rural próxima a uma grande fazenda.

A família do fazendeiro hospedou as duas moças que logo se tornaram como que pessoas da família.

Algum tempo depois, Isaura casou-se com Júlio, o filho do fazendeiro, e Solange com Márcio, um professor.

Muito amigas, as duas continuaram inseparáveis.

Os dois casais estavam sempre juntos.

Quando nasceu a Lorena, filha de Solange, Julinho, filho de Isaura já tinha três anos.

O garoto apaixonou-se pela bebezinha, queria carregá-la o tempo todo e, quando as mães distraiam-se, ele subia no berço e dava-lhe uns amassos.

As duas crianças foram crescendo muito amigas assim como os seus pais.

Julinho adorava a Lorena e sempre a defendia quando outra criança brigava com ela ou a mãe a repreendia.

Quando Julinho começou a freqüentar a escola, Lorena era ainda muito pequena e ele contava a ela como era emocionante assistir as aulas, como a professora era bonita e os colegas divertidos.

Sua brincadeira predileta na ocasião era "brincar de escolinha" e Lorena acabou aprendendo com ele as primeiras letras.

Mas a vida tem seus percalços. Márcio faleceu, ainda jovem, depois de uma rápida enfermidade.

Solange resolveu, então, transferir-se para a cidade distante onde sua família morava e as duas amigas separaram-se.
 
Nos primeiros tempos, corresponderam-se amiúde, mas depois foram espaçando as missivas e por fim só se comunicavam nas datas festivas, Natal, aniversários, etc.
 
As crianças sofreram muito com a separação, mas acabaram acostumando e cada qual seguiu o seu caminho.

Quando Lorena fez 15 anos, Solange mandou à amiga uma fotografia dela, na festa, e Julinho colocou-a num quadro na parede de seu quarto.

Para retribuir, Isaura mandou a Solange à foto de formatura de segundo grau do Julinho.

Mais um tempo se passou e Isaura também enviuvou.

Julinho ainda muito jovem herdou um considerável patrimônio e uma grande responsabilidade, administrar os bens adquiridos por três gerações de sua família.
 
As duas amigas retomaram a correspondência com assiduidade e, algum tempo depois Solange convidou Isaura para fazerem juntas uma viagem.
 
Julinho levou a mãe até o aeroporto na capital e foi então que reencontrou Lorena, a amiguinha de infância de quem nunca se esquecera.

Quando se despediram das mães e estas se encaminharam para o embarque, Julinho sentiu um aperto no coração. Nunca se separara da mãe e a idéia de ficar tanto tempo longe dela o angustiava.

Mas estava contente. Achava que a mãe tinha mesmo que espairecer um pouco.
 
Foi então que ele olhou para Lorena e viu que ela estava com os olhos marejados.
 
Num impulso os dois abraçaram-se terna e longamente.

Depois foram juntos a uma lanchonete para conversar. Tinham tanto a se dizer! Quanta coisa para contar! Tantos anos de vida para passar a limpo!

A certa altura Julinho falou:

- A minha namorada viu o seu retrato na parede de meu quarto e ficou enciumada. Queria que eu tirasse para pôr o dela.

- E você tirou?

- Imagine! Disse a ela que nunca tiraria.

Lorena abriu a carteira e mostrou a Julinho a sua foto no porta-retratos:

- Está aqui desde que sua mãe nos mandou. Eu dizia a minhas colegas que era o meu namorado. Inventava cada história! Elas achavam você muito bonito e ficavam com inveja de mim.
 
Riu meio encabulada:

- Criancice!

- E agora? Seu namorado ainda não implicou com essa foto na sua carteira?

- Não tenho namorado. Ainda não encontrei ninguém que me interessasse.
 
- Vá ver que é por causa do retrato. Você mentiu e os anjos pensaram que era verdade e disseram "Amem!".

Riram divertidos:

- Deixa sua namorada saber disso!

- Minha namorada e eu não nos damos muito bem. Estamos sempre brigando. Agora mesmo estamos brigados. Acho que vou terminar de uma vez.

- E daí?

- Que tal fazermos uma surpresa para nossas mães, quando chegarem?

- Garanto que minha mãe vai ficar muito contente.

- E a minha também!
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