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Publicado: Segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Refazendo as verdades

Refazendo as verdades
... andei refazendo o chão por onde pisei por tanto tempo!

Não sei ao certo quanto tempo faz que escrevi a última crônica. Desde que comecei a escrever publicamente, as motivações que me levaram a juntar palavras em forma de textos foram muitas – quase sempre a manifestação de verdades. Incrível como precisamos de verdades para seguir a vida.

No entanto, quando perdi as verdades, perdi as palavras.

Perdemos a verdade sempre que a vida nos desafia a compreendê-la na dor, na despedida, na separação, na perda, na morte, na doença, no rompimento, na tragédia, no descaso e na falta.   E ainda que esses momentos tardem a chegar, fatalmente, um dia ou outro, seremos todos incomodados por aquilo que até então só parecia acontecer na vida dos outros.   Você já experimentou essa sensação?

No espetáculo teatral “Se fosse fácil, não teria graça”, Nando Bolognesi, ator e diretor, diz que numa determinada fase da sua vida, num susto tremendo, percebeu que ele era o outro. Ou seja, ele era aquele que tinha um problema sério, que tinha uma doença incurável e decepções profundas.  De repente, o Nando, que interpreta a personagem dele mesmo, percebeu que era agora aquele sujeito da vida dura e desgraçada!  

Essa sensação de que o pior só acontece com o outro e que somos protegidos divinos é muito perigosa. Conheço mães de meninas que diziam que suas filhas não faziam sexo com o namorado, em pleno fervor da libido, até o dia em que estas surgiram grávidas.

E é exatamente na descoberta de que também somos o outro que as verdades vão embora.  Comigo foi assim: um dia acordei mãe de gay; no outro, divorciada; e num outro ainda, batendo na porta do psiquiatra. Calma! Não estou louca. 

Mas confesso que levei tempo para me reencontrar.  E, nesse tempo, senti-me refazendo o chão por onde pisei por tanto tempo. Em determinada situações, obriguei-me a levitar... 

O bacana é que nesse processo de apego e desapego, de amor e desamor, de certezas e dúvidas – como um catador de ilusões –, colhi uma porção de outras verdades para mim. E gostei!    

Claro, não é, não foi, e não é nada fácil refazer crenças; é quase um nascer de novo. Mas é um renascer que nos permite refletir sobre o modo de estar no mundo e nele tentar melhorar, sempre. Ainda que as verdades precisem ser modificadas. 

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