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Publicado: Segunda-feira, 25 de agosto de 2008

"Vestida de Mar"

(Recordando Alfonsina Storni, poetisa argentina, que se suicidou no mar)

Lá se foi Alfonsina
entregar seu silêncio, sua solidão.
Pela brisa, pela senda imensa, imersa na ânsia
de sede insondável .
Pela areia branda, branca, a lamber suave
na orla da praia , de espuma leve,
essa vastidão.
“Vestida de Mar”,
“placidez de lago”
lá se foi Alfonsina,
a dialogar, a entregar-se toda
com seu coração.
Por quê ? A vida talvez
na voz ancestral
fosse voz antiga
de Amor imortal. ? . . .
Amor que não morre
porque morra a vida
em silêncio e pena,
a buscar poema
para não soçobrar ? . . .
Alfonsina, “silêncio de alma em que me escondo” ,
“imobilidade do sentimento”,
quantos “filósofos mendigos, sem inveja”, beijariam mãos sedosas de rival ? . . .
Alfonsina , quanto, quanto a indagar ! . . .
Um cheiro de sal
sopra a brisa do mar,
essa voz antiga, doce,
a relembrar e a separar
o eterno tempo
do que é temporal.
Nostalgia a requebrar
fibras sensíveis
não audíveis
no bem ou no mal,
apenas intuíveis em pureza
a repercutir timbres , sutileza infinita,
perfil inaudito, beleza, uma alma impar
a dizer-se a verdade, a sua verdade,
sem à mesma enganar,
a senti-la vibrar cristalina, vital,
por amor, por amar .
A afogar sua angústia,
lá se foi Alfonsina,
“ vestida de Mar “ . . .
Ficou sua sina,
a saudade, o poema,
ficou sua gema, ficou tanta pena
para a alma afagar.

ERASMO FIGUEIRA CHAVES - 2/3/98

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