(Recordando Alfonsina Storni, poetisa argentina, que se suicidou no mar)
Lá se foi Alfonsina entregar seu silêncio, sua solidão. Pela brisa, pela senda imensa, imersa na ânsia de sede insondável . Pela areia branda, branca, a lamber suave na orla da praia , de espuma leve, essa vastidão. “Vestida de Mar”, “placidez de lago” lá se foi Alfonsina, a dialogar, a entregar-se toda com seu coração. Por quê ? A vida talvez na voz ancestral fosse voz antiga de Amor imortal. ? . . . Amor que não morre porque morra a vida em silêncio e pena, a buscar poema para não soçobrar ? . . . Alfonsina, “silêncio de alma em que me escondo” , “imobilidade do sentimento”, quantos “filósofos mendigos, sem inveja”, beijariam mãos sedosas de rival ? . . . Alfonsina , quanto, quanto a indagar ! . . . Um cheiro de sal sopra a brisa do mar, essa voz antiga, doce, a relembrar e a separar o eterno tempo do que é temporal. Nostalgia a requebrar fibras sensíveis não audíveis no bem ou no mal, apenas intuíveis em pureza a repercutir timbres , sutileza infinita, perfil inaudito, beleza, uma alma impar a dizer-se a verdade, a sua verdade, sem à mesma enganar, a senti-la vibrar cristalina, vital, por amor, por amar . A afogar sua angústia, lá se foi Alfonsina, “ vestida de Mar “ . . . Ficou sua sina, a saudade, o poema, ficou sua gema, ficou tanta pena para a alma afagar.
ERASMO FIGUEIRA CHAVES - 2/3/98
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