"Selinho" entre pais e filhos: pode?

Bem, acho que não se trata exatamente de tentar responder a pergunta, mas refletir um pouco para que cada um responda por si, já que é um assunto bastante pessoal.
A relação entre pais e filhos tem se mostrado um tanto confusa nas últimas décadas. Hoje em dia, em muitas situações, praticamente confundimos quem são os pais e quem são os filhos, já que vemos pais jovens, atléticos, atualizados, “modernos” – o que é muito positivo, mas desde que os papeis não sejam confundidos.
“O criador da psicanálise, o austríaco Sigmund Freud (1856 – 1939), retomou o mito grego para definir a tendência compartilhada por todas as crianças: o desejo (inconsciente, que fique claro) pela mãe ou pai (o do sexo oposto) e a eliminação daquele que é do mesmo sexo, considerado rival. Claro que não acontece assim, ao pé da letra. O mito entra aí para escancarar as coisas e permitir que a gente entenda mais facilmente todos esses sentimentos complicados.” - Bianca Molica Ganuza, psicóloga e Christian Ingo Dunker, psicanalista e professor-doutor do Instituto de Psicologia da USP.
Na família existe o papel do pai e da mãe – que, juntos, formam um casal que dorme junto, que beija na boca! O papel dos filhos é outro. São crianças, e criança não beija na boca, não dorme na cama dos pais, etc. Não é caretice, nada disso. Trata-se de demarcar esses limites de maneira bem clara. Do contrário, fica difícil definir o papel do adulto e da criança. Para ela, criança, dar o “selinho” é o mesmo que namorar? Sendo assim, vemos as crianças ainda pequenas e já com supostos namoradinhos – e incentivados pelos pais, na maioria das vezes.
Criança não beija na boca. Criança não namora! Criança tem amiguinhos mais chegados ou não. Na escola chegamos a ver crianças novinhas que querem até deixar de brincar com os coleguinhas para poderem andar de mãos dadas no horário do intervalo, estando com seus (suas) namoradinhos (as). Sentem ciúmes, monopolizam, privam-se da infância, sem nenhuma razão!
Para os pais, evidentemente, é tudo apenas uma brincadeira, mas é preciso que se alerte quanto às consequências disso. Uma criança de dois ou três aninhos, acostumada a dar o “selinho” em seus pais, a tomar banho junto com o sexo oposto adulto ou a dormir na cama do casal, poderá, futuramente, desenvolver o conhecido “complexo de Édipo” (personagem da mitologia grega que se casa com sua própria mãe). Mesmo sem ser tão radical, como é que filhos habituados com o beijo na boca dos pais conseguirá dizer que para beijar o namorado é preciso estar mais “crescido”? Ou então, os pais continuarão a beijar os filhos na boca, mesmo depois de jovens e adultos?
No caso dos filhos que dormem no meio do casal, desenvolvendo em si o direito de estar lá, como fica o casal? Papai dorme com mamãe, papai e mamãe se beijam na boca como namorados. Filhinho (a) não é namorado e, portanto, não beija igual. Beija no rosto, abraça, acaricia, mas nada que se confunda com o carinho ou com o amor do adulto, do casal. Há uma preocupação muito grande (e justa) dos pais, de se atualizarem, de não se distanciarem de seus filhos, mas isso pode e deve ser feito, sem que se abra mão de seu papel, o papel de pai e de mãe, aqueles que representam o porto seguro aos filhos, aqueles que são “adultos”, que orientam, seguram a barra e que deixam muito bem definida a posição de criança e de adulto na família.
Pode se ter a certeza de que os filhos, no futuro, agradecerão muito a seus pais que não abriram mão do papel com a função paterna – no sentido literal de força, de limite e da função materna – de cuidado, proteção.
Amor entre adultos é diferente do amor pelas crianças, pelos filhos. Portanto, o beijo é também diferente e nem por isso menos carinhoso! Que tal incentivarmos a infância de nossos pequenos? Eles irão amadurecer no tempo certo, não precisamos acelerar nada!