"Palma" para o devoto
Cinquentão, nacional e em preto e branco. Desanimou? Nem pensar.
O filme “O Pagador de Promessas” é muito mais do que isso: um enredo simples que se abre para um leque de abordagens, além da belíssima fotografia de Henry Chick Fowle (1915-1995) - o Mister Chick – um inglês radicado no Brasil, que influenciou toda uma geração de profissionais.
Baseado na narrativa de Dias Gomes, o drama foi roteirizado e dirigido pelo saltense Anselmo Duarte. Até hoje foi o único filme nacional premiado com a “Palma de Ouro” no Festival de Cinema de Cannes, em 1962, na categoria de melhor filme, além de conquistar inúmeros outros prêmios e uma indicação para o Oscar no ano seguinte.
“O Pagador de Promessas” conta a história de Zé do Burro e Rosa, sua mulher, que vivem numa pequena propriedade nas proximidades de Salvador até que Nicolau, seu burro de estimação, é atingido por um raio ficando à beira da morte.
Após fazer todas as tentativas conhecidas para salvá-lo sem sucesso, Zé vai a um terreiro de candomblé e faz uma promessa à Santa Bárbara.
Com o restabelecimento do animal, Zé se põe a cumprir o prometido: doar metade de seu sítio aos necessitados e carregar nas costas uma enorme cruz de madeira até a igreja da santa, em Salvador.
A partir daí, o personagem enfrenta as diferentes dicotomias existentes entre sua crença ingênua, o sincretismo e o dogmatismo religiosos, sua inocência e a astúcia do gigolô, seu desinteresse e o oportunismo do comerciante, a parcialidade do policial na solução do impasse criado e o desvirtuamento do papel da imprensa, ao atender a objetivos meramente comerciais. O final é surpreendente. O filme cinqüentão ainda pode ser muito atual.