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Publicado: Sexta-feira, 21 de setembro de 2007

"Meio que" . . .

"Meio que" . . .
Impropriedade vocabular é a vasta e na verdade ilimitada concessão que o povo se concede e com que, por meio dela, se comunica. Nesse enfoque, seria correto então dizer-se que no Brasil se fala a língua portuguesa?
 
Muito da vulgarização lingüística e introdução de termos de gíria a toda hora, vem do declínio dos níveis de educação. A mídia falada e televisionada tem lá seus pecados também. A escrita, conquanto incorra às vezes em gafes, costuma apresentar uma situação menos preocupante. A redação, de qualquer modo, ao contrário da comunicação apenas oral, até porque o que se escreve fica gravado, é bem mais cuidada. Bom seria enfim se desde a escola se fizesse o culto do uso de um idioma mais limpo e puro.
 
A própria regência sofreu uma agressão vital nos anos sessenta, quando se abriu espaço a expressões como “eu lhe amo”. Amar, verbo transitivo direto.
 
Para ficar com usos mais recentes, eis que de uma hora para outra, surgido como por encanto, pegou de vez falar-se em “meio que”. Está “meio que” com jeito de chover. Foi um chute “meio que” sem direção. Reparem no talvez mais conhecido locutor esportivo na mídia, ele próprio, a usar e abusar do “meio que”. Numa narração de um jogo de futebol e do esporte em geral, é claro que o rigor pode ser atenuado. Não é lugar de um português castiço. Tem no entanto que haver certo limite, justamente para que o vernáculo não se perca de vez.
 
Veio antes outra mania na linguagem popular, aquela do “vai ta”. A gente vai estar cuidando da montagem. E assim por diante. Mais ou menos contemporâneo do “vai ta” é o uso impróprio do “tipo assim”. Toda vez que o “meio que’, o “vai ta”, o “tipo assim” são utilizados, denota-se clara e evidentemente a incapacidade na formação de frases completas ou mais explícitas. Esse modo popular de as pessoas se expressarem, principalmente nos apelos aos execrandos “meio que”, ‘vai ta”, “tipo assim” e assemelhados, decorre da incapacidade para se encontrar termos apropriados. Pobreza de linguagem, míngua de vocabulário.
 
Prosseguir na lista de expressões inadequadas, nem será preciso.
 
Chama-se a atenção com este comentário para o fato de que a língua pátria se deteriora progressivamente, justamente pela falta de base. Se nas escolas não se corrige a deturpação, pouco provável que uma providência posterior tenha êxito.
 
Outro indicativo de tanta falta de conhecimento é a inexistência do hábito da leitura. Não da leitura em si ou qualquer, mas aquela de bons autores.
 
Erros de português, colocação inadequada de crase onde ela não existe ou falta dela quando pedida, essas falhas não poderiam ser admitidas nunca nem mesmo em placas e anúncios nas estradas e nas ruas.
 
Maior ou menor apreço à sua terra, enfim, mede-se também pelo linguajar de seu povo.
 
Sadia e elogiável qualquer iniciativa que contribua para evitar o entulho vocabular.
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