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Publicado: Quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Quero votar no tigre

Crédito: Domínio Público Quero votar no tigre

 

Todo mundo sabe o que é um tigre. Ele ruge e, portanto, não corre o risco de falar e prometer o impossível. É extremamente habilidoso e inteligente. Informações precisas sobre ele podem ser encontradas em qualquer site de busca. Não tem erro.

Nas eleições para vereador em São Paulo, em 1959, 540 candidatos disputaram 45 vagas. O ganhador disparado foi Cacareco, que recebeu aproximadamente 100 mil votos contra 95 mil do partido mais votado, o Partido Social Progressista (PSP).

Infelizmente não pode assumir, pois era uma rinoceronte emprestada pela Prefeitura do Rio de Janeiro, para a inauguração do Zoológico paulistano.

A ideia de lançar o animal como candidato teria sido do jornalista Itaboraí Martins, do jornal O Estado de São Paulo, inconformado com a baixa qualidade dos concorrentes e do nível das campanhas.

A esculhambação era geral. Até uma roleta foi instalada pelo Partido Republicano Trabalhista (PRT) no Viaduto do Chá, com os nomes de seus 45 candidatos e o cartaz: “Basta girar a roda da sorte: todos merecem seu voto”.

Itaboraí não perdeu tempo. Juntou os colegas e promoveu o seu candidato, pichando a cidade com a frase: “Cacareco para vereador”. O eleitorado aderiu em massa e no dia das eleições, rabiscou o nome do bicho nas cédulas eleitorais, que depois foram anuladas. O episódio se tornou um dos mais famosos casos de voto de protesto da história da política brasileira.

Em 1988 foi a vez do macaco Tião, chimpanzé do Zoo do Rio de Janeiro. A brincadeira criada pela revista Casseta Popular em defesa do voto nulo, lançou a candidatura não oficial do macaco para a Prefeitura. Tião recebeu mais de 400 mil votos e foi o terceiro colocado entre os 12 concorrentes.

No século 21, nem o candidato eleito no pleito passado – aquele que leva o nome de uma erva daninha – sinalizou inquestionavelmente para os novos/velhos políticos, o descontentamento popular. Talvez o retorno da roleta minimizasse o atual impasse do eleitor.

Há algum tigre correndo, digo, concorrendo às próximas eleições? Não? Que pena!

Quero votar no tigre.

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