Colunistas

Publicado: Quarta-feira, 5 de março de 2014

Quem vai pagar o pato?

Crédito: Arte/MAX Quem vai pagar o pato?

Está aberta a temporada de caça aos responsáveis pelo fiasco na organização da Copa do Mundo no Brasil. Todo mundo viu que faltou planejamento oficial, da construção dos estádios à infraestrutura – estradas de acesso, aeroportos, capacitação de pessoal, entre outros. Adotando a teoria de que “a melhor defesa é o ataque”, o governo soltou seus cães doberman para estraçalhar quem encontrasse pelo caminho.

Farejando o apelo popularesco, o vilão da vez são os preços cobrados pelas passagens aéreas e hotéis. Não faltaram ameaças das autoridades, e o assunto em vez de ser discutido no âmbito do turismo deslocou-se para órgãos como o Ministério da Justiça.

Atônitos, assistimos a esta situação patética, como se os problemas da Copa se resumissem a controlar preços, ignorando a lei da oferta e procura diante de grandes eventos. Representantes e especialistas do setor são unânimes em mencionar uma soma de fatores dos maus resultados, o que inclui a inexistência de planejamento federal; a falta de infraestrutura; o loteamento de áreas chave do governo com gente que desconhece e sofre de inapetência para o turismo; a violência no país; a pesada carga tributária; a legislação trabalhista inadequada ao segmento: o difícil acesso a financiamento e a ausência de incentivos fiscais.

Corre-se o risco de perder o maior benefício da Copa, que é a exposição internacional do país. Faltam estratégias que deveriam ser programadas entre o poder público e a iniciativa privada, como antecipar e prolongar a estada dos visitantes, ou alavancar o turismo em locais próximos às cidades-sede.

No caso da aviação, as empresas fizeram a sua parte e a malha aérea foi redesenhada em junho e julho. A Gol, por exemplo, promete oferecer 4,5 milhões de assentos, ou seja, 85% da capacidade dos estádios, com tarifas de até R$ 499. Quanto à hotelaria, só as 25 redes associadas ao FOHB investiram US$ 7 bilhões em novos empreendimentos. Agora, elas amargam uma baixa ocupação nos dias e locais onde os jogos vão ocorrer. Em São Paulo, a ociosidade chega a 57% das reservas, e que pode se agravar a partir de abril, quando a Match, braço operacional da FIFA, liberar 30% de quartos bloqueados não vendidos. Ao superavaliar a ocupação e desestimular a vocação da cidade para negócios, o governo promoveu um deslocamento da demanda de quem visita um destino pela eventual substituição pelo público da Copa que não deve ocorrer. O mundo corporativo cancelou idas a São Paulo entre o mês anterior ao seguinte à realização da Copa.

Eventos como a Francal, feira de calçados que vai começar dois dias após o fim da Copa, sofrem com a fuga de participantes. “Disseram que não haveria hotelaria, os voos estariam lotados, e o custo seria exorbitante”, lamenta Abdala Jamil Abdala, presidente da Feira. Hoje ele corre atrás do prejuízo diante da queda de 15% no movimento. A Francal não está sozinha. “O Brasil teve sete anos para se preparar, mas não fez o que devia”, diz.

* Este texto foi publicado originalmente na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 25 de fevereiro de 2014, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.

Comentários