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Publicado: Quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Quem olhos tiver...

Quem olhos tiver, que veja a tristeza nos meus olhos tristes, que veja a tristeza que a todos assola, que exercite seus olhos para ver comigo e, compungido lamente, deplore e, também muito chore, tanto descalabro, tal rudeza urbana, viveza caipira, esperteza crioula, tanta vilania, incivilidade . .
 
É o roto querendo falar do rasgado, no país querido, no país amado, vítima sempre do ciclo nefasto, onde a usurpação a ética confunde e, confundida ninguém a socorre, ou alguém se empenha, a difunde.
 
Oh gigante adormecido, permanentemente sonolento sem vontade a distrinchar a teu perfil na perenidade do tempo e da moral. Pareces querer dizer-nos que o que é permanente é o provisório, o instável, a desestabilização : Lembras-te do Anjo Negro Gregório, o cão fiel, presente depois ao velório do seu promotor ?
 
Lembras-te das forças ocultas, tão cultas que nos instabilizou com suas janices ? E agora a secretária, e o motorista da secretária ! . . .
 
Caim matou Abel, PC versus PC matam o belo, sem lugar deixar à fruição da ética e da esperança no espírito e nos destinos da pátria. Ladainha infinita, sem retorno. Sem base moral e sem ética, não há governo, nem destino, nem pátria. Nada há que estimule e nos dê esperança. Tudo é repetição da ação do nefasto.
 
Há certamente o lugar onde habitamos, sem qualidade, conscientizemo-nos ! . . .
 
Quem olhos tiver para ver além, como bom ser humamo, que se constranja e se frustre comigo e com quantos crêem, ainda, na nação já finda, acéfala de tudo o que seja missão. Para manter a chama acesa da esperança, no repúdio a tudo o que a sufoca.
 
Hoje já nem agro, nem mesmo taladro, nem silêncio ou adro sacralizam nada ! Nem trabalho honesto, nem inglório valor, nem um ser modesto, nada, nada, nada ! . . . Nada há de sagrado ! . . .
 
Não há mais padrões, só mourões e cerca farpadas a cercar a ética, prisioneira e patética de interesses vis, no sem fim da estrada da coisa nenhuma, de egos grosseiros, que a esperteza esculpe sem cinzel, a malho, ante atônita urbe, de face esbulhada, coração partido à espera da fada. Quem olhos tiver, que veja a tristeza nos meus olhos tristes ! . . .
 
São Paulo     30 / 06 / 1992 (episódio Collor de Mello)
(Mudou alguma coisa de então para cá?)
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