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Publicado: Domingo, 8 de janeiro de 2012

Quando a falta de atenção toca a pele

Crédito: Divulgação Quando a falta de atenção toca a pele
É quase como a luta para fecundar um óvulo

Imagine uma região de 2,5 milhões de habitantes inchar para um público de aproximadamente 7 milhões em 48 horas? Volto a repetir: se fosse em qualquer outro lugar do Brasil, o caos total se instalaria. No caso do litoral paulista, se, de dia, ainda tem água e, de noite, ainda tem luz, sinta-se uma pessoa privilegiada.

Os últimos grandes investimentos na região metropolitana da Baixada Santista foi na época do governo Maluf. Faz tempo isso. Foi quando surgiu a Ponte do Mar Pequeno (senão, estaríamos sainda da ilha e indo para o continente pela sofrível Ponte Pênsil). Todos os demais investimentos em estrutura na região surfaram no legado deixado por Maluf.

Sinceramente, não me recordo de algum investimento estrondoso dos últimos governos. Posso até estar sendo tremendamente injusto. Mas o que o turista e veranista sofre ao longo das cidades do litoral paulista, em vários aspectos e circunstâncias, durante o período de férias e festividades de final de ano, se deve a negligência do governo estadual em relação a região.

Aquela velha história de se enxergar o litorâneo como uma espécie de Dorival Caymmi que vive de água-de-coco e camarão. Uma espécie de arraial de pescadores que não usam o cérebro a tecer as redes para a pescaria de segunda. Relegando uma região inteira a não ser mais do que um homem-do-sambaqui com smart phones e tablets em mãos.

As últimas visitas do governador Geraldo Alckmim à região soam meio como para inglês ver. Sempre com a visão no futuro dos candidatos do partido nas eleições municipais de 7 de outubro. Até aí, nenhuma novidade. Mas quando alguém de uma outra região do estado vem passar uma simples semaninha aqui e conhece os dissabores da famosa época de temporada, percebe que durante um ano inteiro o governo estadual deu as costas para a região.

E isso independe de partido político. Isso é no geral. O único que teve visão de futuro para a região como integração de suas nove cidades foi Maluf. Caso contrário, chegar a Peruíbe, por exemplo, levaria, sem exagero, dois dias.

É espantoso. Com todo mundo exportando carga pelo o porto de Santos, alguns problemas que os visitantes encontram durante esses dias deveriam ser, definitivamente, coisa do passado.

A coisa na região só anda quando o governo federal pressiona o estadual a justificar sua governança nesse trecho de território. Se esticarmos assunto para o Vale do Ribeira, meu pai... A coisa fica esquisita pacas.

Alguém poderia alegar que isso é mania de perseguição. Até poderia ser, mas quando o próprio contribuinte paulista vem ao litoral curtir uma praia e se depara com um monte de problemas e trabalhos a serem feitos, percebe que há alguma coisa errada entre o governo estadual e as lideranças regionais.

Só que quando o problema é vivenciado, a culpa é sempre do caiçara vagabundo que não faz nada para melhorar uma série de coisas que estamos há anos solicitando de pessoas que deveriam nos representar, e não nos dar as costas.

É aquela velha história: na hora da cachaça, somos o litoral paulista. Na hora do tombo, somos uma região autônoma. Vale a lei de Murici: só sei que não sei de nada, cada um cuida de si.

Podem acreditar, não há alegria alguma, contentamento algum, quando vemos um visitante passar por situações difíceis junto ao litoral, vicissitudes que bem poderiam ser evitadas se não fossemos apenas lembrados quando chega o verão.

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