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Publicado: Segunda-feira, 28 de março de 2005

Procurais a Jesus de Nazaré? Ele não está aqui: ressuscitou!

Imagine o leitor a emoção que teria se lhe fosse possível visitar em Jerusalém a Basílica do Santo Sepulcro. Logo à entrada verá uma pedra de mármore no chão, colocada sobre o local da unção do corpo inerte de Cristo. À sua direita, subindo alguns metros, antes de chegar à atual capela erguida sobre o Monte Calvário, chamará a sua atenção uma enorme fenda de alto a baixo na pedra. Mais à frente poderá reverenciar a escavação feita na rocha viva em que foi erguida a cruz redentora de Cristo. Descendo e entrando no ambiente sagrado da venerada Basílica, mandada construir por Constantino Magno no princípio do século IV, poderá oscular e permanecer alguns minutos no interior do sepulcro vazio de Cristo. Pouco mais adiante dará com outra capela em que segundo a história, Santa Helena, mãe do primeiro Imperador cristão, encontrou o madeiro da cruz que levou consigo para Roma.

O lugar é tão sagrado que os cristãos não suportaram a sua profanação pelos pagãos romanos e, posteriormente, no século XI, pelos infiéis muçulmanos. Essa foi a causa principal do início da epopéia das Cruzadas nos tempos do Papa Sérgio IV e do monge São Bernardo de Claraval. Por recomendação do Papa ele percorreu as nações católicas da Europa incentivando os príncipes e fiéis cristãos a se unirem, somando forças para a reconquista dos lugares sagrados. “Deus o quer!” foi o grito que levou a cristandade à Palestina dos tempos de Cristo, com o fim principal de libertar o Santo Sepulcro e os lugares acima lembrados, profanados pela meia-lua. Afinal, os lugares santos haviam sido doados por Constantino Magno ao Patrimônio de São Pedro, à Sé Romana, centro do mundo cristão.

Exatamente ali é que Cristo, filho de Deus que se humanizara no ventre virginal de Maria de Nazaré, deu a vida por nós quando ainda éramos pecadores. Encarnara-se e viera para isso: sacrificar a sua vida como suprema prova do amor de Deus e dele mesmo. Ali, erguido entre o céu e a terra, ele “acabou atraindo todas as coisas a si” (Jo 12,32). Ali o seu corpo sem vida fora colocado no colo de sua mãe, a Rainha dos Mártires. Ungido às pressas o seu corpo, pois caía a tarde de sexta-feira, início do repouso sabático dos judeus, que nessas 24 horas não suportavam ninguém na cruz, formou-se o mais dolente de todos os cortejos fúnebres. Pouco abaixo do Monte Calvário o corpo do Nazareno e Mestre amado foi colocado no sepulcro de José de Arimatéia, sinedrita simpatizante de Cristo.

Uma grande pedra foi colocada à entrada do sepulcro. Lá, alguns metros abaixo, envolto em um lençol, que acabou fixando as formas do seu corpo ferido e ensangüentado. Uma grande tristeza apoderou-se dos Apóstolos encurralados no Cenáculo e do pequeno grupo das santas mulheres. Estas, impacientes e lacrimosas, na “madrugada do dia seguinte ao dia de sábado” (Jo 8,2), retornaram ao sepulcro de Cristo desejosas de terminar de embalsamá-lo à moda dos judeus. Foi grande o seu espanto quando deram com a enorme grande pedra removida e o túmulo aberto. Ali mesmo perceberam a ausência do corpo do Mestre amado e ouviram o anúncio angélico: “Sei quem procurais. É a Jesus de Nazaré que foi crucificado. Ele ressuscitou! Não está mais aqui. Ide anunciá-lo aos seus discípulos, dizendo que Ele os precederá na Galiléia” (Mt 28,5-7).

Sim, o sepulcro estava vazio! Estava e continua vazio! Pude visitá-lo e beijá-lo várias vezes recordando a palavra de Cristo: “Tende confiança, filhos, eu venci o mundo!” (Jo 16,33). Também vós e, certamente a minha Igreja, haverão de vencê-lo. Sucederam-se numerosas aparições: a Pedro, a Maria Madalena e às santas mulheres, aos discípulos de Emaús, aos Apóstolos reunidos no Cenáculo, ausente e depois presente Tomé. Em seguida Cristo aparecerá três vezes aos Apóstolos na encantadora Galiléia, bem perto do imenso e límpido Lago de Genesaré. Posteriormente, a cerca de 500 discípulos no momento de sua ascensão e, por último, ao perseguidor Saulo de Tarso na estrada de Damasco transformando-o, embora “abortivo” como ele mesmo escreveu, em outro Apóstolo e grande evangelizador.

Você poderá e eu desejaria que o fizesse, ir a Jerusalém, a cidade do Rei Davi, recordando os eventos salvíficos daquela primeira Semana Santa. Mesmo que não o possa fazer, a Igreja fundada por Cristo acaba de atualizar e celebrar mais uma vez os eventos de quase vinte séculos atrás. Muito mais que os atos para-litúrgicos sem dúvida significativos — o Ofício das Trevas, as procissões dos Passos, do Encontro e do Senhor Morto — os belos ritos da atual liturgia oficial da Igreja: a bênção dos ramos, o lava-pés, a solene instituição da Eucaristia, a proclamação da Paixão de Cristo seguida da adoração da cruz e das preces universais da Igreja, os comoventes ritos da Vigília Pascal culminando com as celebrações da Páscoa do Senhor, não apenas recordaram e celebraram, mas atualizaram os decisivos acontecimentos dos últimos dias de Cristo, o Filho de Deus. Que as palavras ditas por ele aos Apóstolos no Cenáculo — “Eu vos dou a paz! A paz esteja convosco!” (Jo 20,26) — nos traga “a paz que é fruto da justiça” (Is 32-17), a paz que é possível e necessária, a paz de que todos devemos ser construtores.

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