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Publicado: Quarta-feira, 23 de junho de 2004

Problemas de Aprendizagem: desafios e soluções

Vivemos numa sociedade que cultua o êxito e a eficácia, onde as pessoas, para serem bem sucedidas, precisam mostrar resultados rápidos e eficientes em suas ações , nos diversos papéis que assumem ( vida familiar, profissional, social , afetiva). Na busca desta eficiência sem limites, os vínculos estabelecidos com os outros vão ficando frágeis e superficiais: há poucos compromissos e um individualismo acentuado. O valor de cada um está no que faz e tem , e não naquilo que é.

Neste contexto, o insucesso na escola tem sido motivo de angústia para muitos pais e filhos. É preciso, no entanto, que se faça uma leitura mais ampla desta questão , para que a criança/adolescente, não seja injustamente, o seu único depositário.

Quando pensamos em dificuldades para aprender podemos relacionar variados aspectos que interferem neste processo. Também podemos estabelecer significados particulares que assumem, para cada criança, o “não aprender” ou suas dificuldades.

O papel da família

Na clínica psicopedagógica, muitas vezes ouço dos pais que eles não tem exercido pressões suficientes para que seu filho obtenha melhores resultados na escola. Diria melhor: não tem transformado em palavras e ações aquilo que pensam.

Sabemos, porém, que aquilo que não é dito tem, sobre os filhos, força maior do que todos os discursos cotidianos.

Como o êxito dos filhos faz com que os pais sejam considerados melhores, as crianças de hoje tem convivido sob pressão de uma carga de expectativas exageradas , depositários de todos os sonhos e desejos não realizados .

Envolvidos por esse sonho, os pais desconsideram as particularidades de cada filho, o ritmo e tudo aquilo que forma a sua identidade , podendo este ser diferente dos irmãos e dos próprios pais.

O papel da escola

Muitas vezes é observado baixo desempenho escolar decorrente de uma inadequação da escola. Uma criança pode não aprender para mostrar sua “reação” (saudável...) a um sistema que não considera suas possibilidades e sua modalidade de aprendizagem.

Entre inúmeras questões metodológicas possíveis de citar , a escola tem se equivocado ao querer imprimir o “ritmo do vestibular” ao ensino fundamental, alegando que é um dado de realidade enfrentar situações de teste. É realidade sim, mas não para quem tem 7 ou 10 anos.

Nas avaliações , a escola e o professor precisa considerar o processo, o caminhar do aluno em direção à construção do conhecimento e não apenas o produto final: o número, a palavra ou a resposta certa.

Os educadores precisam olhar o erro como construtor, como o caminho para a aprendizagem . A tarefa mais importante de um educador é enfrentar os desafio de caminhar rumo ao Saber junto dos seus alunos, considerando em todos os momentos, a subjetividade de cada um, aquilo que o faz ser único e especial.

Se há ou não condições para tal trabalho na escola, isto é outra história, e não cabe à criança ser penalizada pelas falhas do sistema de ensino.

A criança, o adolescente e os significados do aprender

Em razão de conjunções particulares, o fracasso pode resultar de significados que o “aprendente” atribui ao saber, muitas vezes de forma inconsciente.

O conhecimento pode ser percebido como uma ameaça ao seu lugar de pequeno, de dependente da mamãe e do papais ao seu lado...

Outras vezes as regras e as leis impostas pela matemática, ciências, geometria, etc., são vistas como limites indesejáveis, já que no dia a dia as crianças podem não lidar bem como eles.

Crescer e superar os pais, para assim constituir-se como pessoa, poderá significar o perigo que o saber acena para alguns.

Crianças fragilizadas por perdas (mortes, separações, mudanças, etc.) normalmente tem baixa resistência à frustrações e podem chegar ao ponto de não se arriscarem nas lições e provas para evitarem novas perdas escolares.

O papel de todos nós

Toda criança ou adolescente com dificuldades para aprender ou corresponder às exigências escolares precisa, antes de tudo, ser compreendida profundamente... Os adultos e educadores tem a tarefa de buscar o significado que assume , na vida de cada uma delas, este sintoma.

Muitas vezes se faz necessária ajuda profissional para que ela possa reencontrar seu desejo de aprender, seu potencial, sua identidade de aprendiz... Em outros casos, é o suficiente apenas ser vista, ouvida e ajudada por seus professores e sua família .

Precisa que, antes de qualquer decisão, possamos garantir-lhe um lugar em nosso amor. Aquele amor onde tudo um dia começou...

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