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Publicado: Segunda-feira, 17 de outubro de 2005

Presente e futuro preocupantes

Ufanista é quem se julga no melhor dos mundos possíveis e, no caso de um brasileiro, quem somente vê no Brasil de hoje um país sem problemas. Também não seria objetivo aquele que, saudosista dos tempos passados, negasse que demos bons passos para a frente, de 1950 para cá.

Com meus 78 anos de vida, posso comparar o Brasil de hoje com o da década de 1940 ou 1950. Sem dúvida avançamos muito tecnologicamente. Deixamos de ser um país majoritariamente rural e nos tornamos uma nação até certo ponto moderna, industrializada e urbanizada. Temos alguma liderança continental atualmente e somos a décima segunda economia mundial, se estou bem informado.

Permito-me destacar que acabamos regredindo em muitas questões, principalmente na coesão familiar, na unidade religiosa, na honestidade, na desonestidade e na insegurança. Convenhamos que são importantes pontos perdidos, pois a família continua sendo a “célula mater”, o fundamento de uma sociedade estável e forte. A unidade religiosa, quando não há radicalismos mas convivência da maioria com as minorias religiosas, é um fator de unidade nacional, bem mais até que a língua e a história. A honestidade, a segurança, o emprego com um salário justo, são bens irrenunciáveis em qualquer povo e tempo.

Lamentavelmente, estão aí enumerados os pontos em que todos saímos perdendo. Outra era a situação antes de 1950. Havia da parte dos jovens uma grande seriedade em sua opção matrimonial. Praticamente não se viam casos de concubinato e de adolescentes grávidas. O casamento civil e religioso precediam o início da vida conjugal. Existiam muitos sonhos, mais felicidade e estabilidade em nossos lares. Os casais estavam abertos ao dom da vida dos filhos, dando um sentido menos egoísta à vida das famílias.

Hoje vivemos uma situação de verdadeira subversão do comportamento dos casais. São muitos os jovens vivendo maritalmente, especialmente quando universitários. A liberação da mulher com o advento dos contraceptivos, pílulas e preservativos, levou a uma libertinagem. Tudo é permitido “quando há amor”, dizem os programas de televisão, principalmente em novelas desagregadoras dos mais sagrados valores do casamento e da família cristã, firmada no amor, na fidelidade, na geração e educação dos filhos. Nas últimas décadas cães e gatos passaram a ser tão ou mais importantes que os filhos!

A desagregação da família, a decadência dos costumes domésticos, é tal que alguns já começam a colocar em dúvida a própria sobrevivência da família que, desde o princípio da história humana, acompanha a vida de todos os povos, mesmo dos mais primitivos. Desconhece-se em qualquer tempo e lugar um povo vivendo em completa promiscuidade. Acabaram prevalecendo por toda a parte o casamento por livre escolha dos nubentes, a família monogâmica, estável e fecunda. Era o que correspondia aos apelos mais profundos da natureza do homem e da mulher.

Já na década de 1970 escrevia eu em artigos semanais, sem pretensões de ser profeta, que o divórcio seria extremamente antipedagógico. Pensando em uma possível separação e na possibilidade de outros casamentos, rapazes e moças se acasalariam sem maiores compromissos. Deu no que deu: uma impressionante irresponsabilidade na mais importante opção de suas vidas: constituir ou não uma família sólida, perene e fecunda.

Mais adiante refletirei sobre os outros três pontos em que as mudanças foram para pior: a perda da unidade religiosa e a insegurança que hoje não nos garante poder retornar vivos para as nossas próprias casas. Vivemos uma babel de grupos religiosos que se multiplicam a cada dia. E não sei se existe país com índice de corrupção e insegurança maior do que a existente entre nós.

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