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Publicado: Terça-feira, 1 de fevereiro de 2005

Preguiçoso trabalha dobrado!

Lendo a Revista Veja da semana passada (26/jan/2005), fiquei escandalizada com o que está prestes a acontecer com o Ensino Superior em nosso País!

O Governo Federal, resumidamente, pretende o seguinte nas Universidades Públicas: “*Reservar metade das vagas para estudantes oriundos do Ensino Médio da Escola Pública, Negros e Índios; * Extinguir as fundações por intermédio das quais os pesquisadores recebem verba do setor privado.” — Revista Veja, “O Grande Salto para Trás” - pág. 50, de 26/jan/2005.

Sou Pedagoga, Especialista em Psicopedagogia e em Docência no Ensino Superior, além de Cidadã! E é por isso que sinto a necessidade de me pronunciar diante de tamanhas insanidades do Governo Federal!

Antes de mais nada, para que não seja confundida com os preconceituosos ou elitistas de plantão, quero inicialmente dizer que também sou absolutamente contra o fato de nossas Universidades Públicas estarem a serviço, praticamente, das classes mais privilegiadas, oriundas em sua maioria do Ensino Médio Particular. Entretanto, não se corrige um mal com outro!

A Educação precisa urgentemente começar a ser corrigida em sua raiz! É na Educação Básica Pública que reside o problema e ninguém faz nada para melhorar. Há que se elevar o nível do Ensino Fundamental e Médio Público, para que os estudantes das classes “menos privilegiadas” possam competir em pé de igualdade com os das Escolas Particulares. Isso sim é socializar a educação! Como é que alguém pode se atrever a pensar em solucionar o problema do acesso à Universidade Pública permitindo que jovens totalmente despreparados — não por sua culpa ou falta de vontade, mas por total e absoluto desleixo de todos os Governos que tivemos — entrem na Universidade e corram o risco de não conseguirem acompanhar conteúdos, de se sentirem excluídos?

O Governo anterior ao de Lula fez transformações importantes, mas ter tirado a reprovação foi um caos! Tirou o estímulo dos Professores e passou a aprovar milhares de jovens, de uma série para a outra mesmo que não estejam em condições.

Se repararem, a maior propaganda que a Escola Particular de Ensino Médio faz é divulgar a quantidade de Alunos que ela “conseguiu” colocar na Universidade Pública. Essa competição entre as Escolas é que faz com que elevem cada vez mais o nível de ensino, aumentando mais e mais a diferença com as Escolas Públicas de Ensino Médio.

Pois bem. A questão é que 50% das vagas das Universidades Públicas serão destinadas a esse pessoal supostamente despreparado e os outros 50% serão muito mais disputados entre os jovens do Ensino Médio Particular. Resultado? Um pessoal de altíssimo nível da Escola Particular irá dividir as mesmas classes com o pessoal proveniente das Escolas Públicas de Ensino Médio.

Com certeza, teremos classes heterogêneas e ficará praticamente impossível para o Professor lidar com essas diferenças!

Segundo a Revista Veja — “ Nos Estados Unidos onde a política de cotas para negros teve bom resultado, as Universidades dispunham de verbas especiais para programas de reforço pedagógico aos estudantes.” No Brasil a proposta se limita a obrigar as Universidades a abrir espaço...” — pág. 50. Portanto, sem reforço pedagógico e despreparo no Ensino Médio Público, só restará ao Professor Universitário abaixar o nível de suas aulas!

Como eu já enfatizei, segundo o ditado popular “Preguiçoso trabalha Dobrado”, refiro-me aos problemas que virão depois e que terão que ser resolvidos — profissionais despreparados e de baixo nível, preconceito nas próprias salas de aula, etc., etc, etc. Aí sim, depois do problema instalado é que o “preguiçoso” — ou quem vier depois “dele” — precisará trabalhar dobrado para consertar tamanho estrago! Só que estamos falando em Educação, meus amigos. E com Educação não se brinca e muito menos se faz Política Populista como essa que está sendo feita.

A Educação de um povo é que irá determinar seu futuro, seu desenvolvimento (ou não)! Faço um apelo: Srs. Governantes, com todo o respeito, pensem nisso... ou terão que trabalhar em dobro num futuro bem próximo!

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