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Publicado: Segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Portaria, ou seja, unidade central de fofocas

Dizem os sábios que língua não tem osso, mas quebra osso. Essa frase que, na verdade, faz parte dos famosos clichês populares, bem lá no fundo, tem um quê de verdade, afinal, como também reza a sagrada lei dos provérbios, a fofoca é a poderosa arma dos incompetentes e invejosos.

No entanto, nem sempre aqueles que se nutrem de informações da vida alheia prestam atenção no que estão fazendo, no poço de maldade que há em cada gota de injúria e acabam por prejudicar as pessoas à sua volta pelo simples prazer do veneno que destilam pelo ar.

Como somos observadores dos problemas que cercam a vida nos condomínios, percebemos que certa preocupação que, infelizmente, esse tipo de problema torna-se mais evidente na redoma dos residenciais.

Portanto, atendendo a inúmeros e-mails, focaremos essa problemática neste espaço de troca de idéias e reflexões. Pois bem, segundo os antropólogos, a arte de fofocar é inerente ao ser humano e, para não ser injusto, não é um atributo restrito apenas às mulheres.

Sabe-se que os homens também gostam de muvucazinha; mas, se tem um lugar em que a fofoca rola solta, além do salão de beleza, com certeza esse lugar é a portaria dos condomínios, tanto que alguns costumam chamá-la de “Central Geral da Fofoca” ou “rádio peão”.

Claro, com certa naturalidade, pois por esse tímido espaço quase virtual que divide o externo do interno passam todas as informações pertinentes aos desatentos moradores antes de chegarem a quem é de direito.

Assim, pelas portarias passam as cobranças, os carnês atrasados, as intrigas entre vizinhos e até brigas conjugais, que ganham saem do leito de amor e notoriedade entre os porteiros, porque os mesmos, quer queira ou não, controlam cada passo dos condôminos.

Dessa forma, podemos dizer sem medo de errar que os porteiros sabem e sabem muito da vida alheia. Conhecem com exatidão quem não gosta de receber visitas, aquele que mente de que não está para não receber cobrador ou, o pior, quem está desemprego, quem não paga a taxa do condomínio em dia. Conseguem apontar com exatidão quem consome mais água porque não leva seus carros a um lava-rápido, enfim, todos os detalhes dos mais simples aos mais sórdidos, nada escapa aos olhos e ouvidos dos porteiros.

Todavia, essa suposta onipresença dos porteiros na vida dos moradores não ocorre por acaso, se eles têm conhecimento dos fatos que cercam a vida de seus patrões é porque muitos condôminos, como se diz no popularzão, dão com as línguas nos dentes. Fazem questão de dizer com todas as letras que não gostam de seus vizinhos pelos motivos mais mesquinhos.

Aliás, quizila entre vizinhos é algo corriqueiro na vida de um residencial, seja ele horizontal ou vertical, com pedigree ou classe média baixa. Na verdade, quando o barraco está armado, de uma hora para outra, certos condomínios viram verdadeiros cortiços, bem ao estilo do narrado por Aluísio Azevedo, sem seu memorável romance do Naturalismo brasileiro, “O Cortiço”.

Outro dia, ficamos sabendo que a gana por uma fofoquinha era tanta, que um certo morador de um prédio aqui de Sorocaba, já idoso, não tendo muita ocupação em seus dias, revirava o lixo dos vizinhos só para saber sem encontrava um rastro de discórdia que pudesse tira-lo do ostracismo de uma vida condenada à observação dos passos alheios.

Embora o assunto pareça brincadeira, a questão é séria, pois há psicólogos que analisam esse desvio de comportamento que, se não for observado, tende a tornar-se verdadeira obsessão, como é o caso de uma senhora, que morava na Bahia. Não sabemos se isso é verdadeiro, mas faz parte dos “causos” escabrosos que compõem as lendas dos condomínios.

Segundo se comenta até hoje, nos idos de 80, em um residencial de Salvador, uma moradora literalmente fiscaliza a vida de quem entrava e quem saia do tal residencial, que nem era de grife, mas ostentava o título.

Dessa forma, bancando o Sherlock Holmes de saia, xeretava a vida de todo mundo, ouvia conversas pelo telefone, abria correspondências alheias e, quando sabia de alguma mácula alheia, passava a notícia adiante. Resumo da ópera: levou uma surra de um valentão que não suportou aquilo. Além disso, a fofoqueira teve que se mudar porque a sua vida e de seus familiares virou um verdadeiro inferno.

Todas esses fatos nos chamam a atenção para uma questão: a fofoca é um terror e, principalmente quando as pessoas dividem o mesmo espaço, a convivência torna-se insuportável. O ideal é que todos respeitem a vida alheia, ignorem conversas que ferem os princípios éticos da tolerância.

Além disso, é necessário que se faça um trabalho de orientação dos porteiros para que não sejam garotos de recado, que exerçam sua profissão com dignidade e respeito ao próximo. Se todos seguirem essas regras, com certeza, viver em condomínio torna-se menos problemático e evita-se que os vizinhos nem tenham coragem de dizer um simples bom dia porque houve uma desavença por conta uma calúnia que gerou muito desconforto entre todos.

É isso aí meus queridos amigos! Passem adiante esta mensagem: “O respeito não se exige, conquista-se pelas atitudes”. Boa Semana a todos e até a próxima!

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