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Publicado: Quinta-feira, 30 de setembro de 2004

Portões Abertos

Era uma vez uma fábrica, abandonada a sua própria sorte de casarão assombrado pelo eco do apito emudecido, pelas poucas máquinas esquecidas, pelos cantos empoeirados...

Um dia ela começou a reviver, encontrou-se novamente com seu destino de trabalho forjado por tantos braços anônimos. Aos poucos foi reacendendo sua caldeira, os cantos já limpos, a poeira lavada na água límpida dos sonhos e na vontade de produzir mais história, uma nova era de criações e realizações...

A beleza arcaica da velha construção lentamente vai se entranhando nas pessoas que chegam e que, olhando através das janelas, espiando pelas frestas, conseguem entrever a pequena miragem que vai se desenhando, tomando os contornos dos desejos dessa gente que vislumbra futuro neste espaço centenário.

O pátio florido acolhe os curiosos e convida a uma reflexão sobre a magia dessa redescoberta: é o passado que convive com o presente e mostra a importância do cultivo do patrimônio, não só físico, mas especialmente da memória coletiva que habita entre suas paredes. Esta memória ficou impressa na imagem de São Luiz, que em matizes de azul esmaecido espera o momento de voltar a circular pela fábrica, a figura protetora que dentro em pouco vai reassumir seu posto de guardião.

Interessante também o quanto de afeto ainda sobrevive neste espaço, afeto dos trabalhadores, de gerações de famílias que passaram por seus teares, uma nostalgia que os traz constantemente até o portão de entrada, agora definitivamente aberto.

É bom fazer parte desse processo, as possibilidades de uso e destinação dos espaços são imensas, idéias já estão começando a se concretizar, saindo da matéria dos sonhos e virando a argamassa que vai unir a cidade e a fábrica novamente. Mais importante talvez seja o efeito que isto já está surtindo na auto estima dos cidadãos. Como eu, muitos também devem estar sentido que finalmente Itu começa a fazer as pazes com sua história. E, ainda que timidamente, as portas e janelas começam a se abrir para esse novo tempo.

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