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Publicado: Sábado, 10 de dezembro de 2011

Por uma mendicância sustentável

Por uma mendicância sustentável

Dá para contar nos dedos de uma mão os casos de pedintes autônomos que conseguem fazer da mendicância uma atividade honrada e rentável. Computadas as despesas operacionais, quando muito o negócio se paga, o que emparelha nosso segmento com a pesca ou a agricultura de subsistência, por exemplo. Nunca estivemos tão longe de posicioná-lo como um foco de empreendedorismo e de atração de investidores.

Em meio a tantas dificuldades inerentes ao ofício, destacamos a chamada "mendicância sustentável" - que pressupõe um mínimo impacto ao meio ambiente e a utilização mais racional possível dos recursos disponíveis, o que resulta em ganho de imagem institucional, legitimidade da nossa função perante a opinião pública e maior valor agregado a cada real obtido nas esquinas e semáforos.

Alguns expedientes práticos são plenamente aplicáveis, de imediato, aos grandes grupos mendicantes da iniciativa privada, de controle nacional e multinacional, bem como às cooperativas de mendigos espalhadas por todo o território brasileiro - ressaltando que estas últimas vêm experimentando um crescimento da ordem de 14% ao ano nas últimas décadas, em termos de receita bruta tributável. Dentre as principais providências, podemos elencar:

- A utilização intensiva, especialmente nos estados do Acre e do Rio Grande do Sul, do papelão – material por natureza reciclável -  em substituição aos trapos e colchonetes de espuma, que precariamente servem como cama e mesa de trabalho para os profissionais da esmola;

- Implantação, nos grandes centros urbanos, de postos de troca de canecas plásticas não recicláveis para recolhimento de moedas por similares de alumínio – que apresentam maior durabilidade e possibilitam descarte ecologicamente correto.

- Demarcação de pontos de mendicância determinados pelas prefeituras e outorga do selo "Mendigo Digno" aos pedintes que atuarem em conformidade com as leis municipais.

A soma destes esforços vem colaborando para que tenhamos o respeito e a admiração da coletividade.  Contudo, apesar de pedintes, não queremos pedir nada. Temos a nossa consciência de classe, poder de mobilização e a certeza de que juntos conquistaremos nossas justas aspirações pelos próprios méritos. Não aceitamos o assistencialismo dos governantes nem conchavos de qualquer espécie que façam calar a nossa voz. A sociedade como um todo reconhece a função social do mendigo, um bem necessário ao equilíbrio da urbe e aos esforços de contenção da violência. Afinal, quem mendiga não assalta, não mata e não compactua com o crime organizado. Ao contrário: o bom mendigo movimenta a economia com seu rendimento diário, gerando e mantendo empregos no microcosmo em que pede esmola.

A regulamentação da atividade e sua definitiva inserção na economia formal depende fundamentalmente de vontade política, e nesse sentido a bancada mendiga no Congresso vem se mobilizando fortemente, inclusive com a constituição do primeiro sindicato da categoria associado à CUT.

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