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Publicado: Quinta-feira, 4 de novembro de 2004

Por que também as crianças?

Com o cristianismo as crianças acabaram centralizando em torno de si carinho, segurança e atenções. Estão elas entre os discriminados cuja marginalização foi superada pela pessoa de Cristo. Elas, a mulher e os samaritanos, os pecadores e publicanos, os leprosos e estrangeiros. A história do cristianismo recolocou toda pessoa humana em seu devido lugar: o centro da obra criadora de Deus. Sua obra-prima, todo homem e mulher, independentemente de idade, sexo ou posição social, foram feitos por Deus à sua imagem e semelhança, como se lê no Gênesis.

Pouco a pouco, porém, nos séculos que antecederam o advento de Cristo, o homem veio afirmando a própria superioridade. Particularmente entre os orientais mas, também, entre outros povos, até mesmo entre os gregos e romanos a criança e a mulher foram marginalizados. Não se espante o leitor sabendo que o infanticídio feminino e os sacrifícios de donzelas virgens se difundiram aqui e ali. Entre os gregos, apesar de ser a Grécia a pátria da democracia, havia em todo lar o gineceu. Era o espaço em que deveria recolher-se a esposa, enquanto o marido não a chamasse para receber os visitantes.

A vida dos nascituros não raro corria risco de ser abortada. É o que se apreende da célebre Carta a Diogneto, do século I, em que o autor afirma que em tudo, no morar e no vestir, os cristãos não se diferenciavam dos pagãos. Mas deles se distanciavam porque além do amor que tinham entre si, não atentavam com a vida dos que haviam sido concebidos. Os escritos dos Padres da Igreja, as declarações conciliares, o ensino dos doutores, teólogos e Papas, fizeram que as leis civis, desde Constantino Magno, no século IV, viessem se adequando às leis e valores do Evangelho. Foram superados, além do politeísmo, adoração idolátrica de vários deuses, também a poligamia, casamento entre um homem com várias mulheres, o divórcio, o aborto e outros costumes pagãos.

O quinto mandamento do Decálogo — “Não matarás!” — particularmente válido para o inocente, veio sendo respeitado em todos os séculos da caluniada Idade Média, até a Revolução Francesa, em 1789. A partir daí, incompreensivelmente, numa contradição com o trinômio “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, o mundo foi e continua retornando aos costumes pagãos. Paulatinamente, foram se reintroduzindo no Ocidente, o que não deixa de causar estranheza por ser constituído de nações cristãs da Europa e da América o divórcio e até o aborto, integrado nas Constituições e vidas dos países. É lamentável, até porque faz parte dessa “cultura da morte”, que vai se difundindo rapidamente em uma agressão, a cada dia mais afoita e cruel à vida do nascituro e dos que se encontram em fase terminal.

Nesse contexto, estou profundamente preocupado com o crescente e cruel aumento do número de abortos entre nós — cerca de 1,5 milhão por ano! — contra o crescente do número de cães, gatos e outros bichos em tantos lares cristãos, cujos pais consciente e voluntariamente se negam à geração dos filhos que têm o dever de ter. É responsabilidade grave dos que constituem uma família, a geração e educação dos filhos que podem criar e educar convenientemente. Sei de uma família da alta classe (sic!) em que há dois filhos e onze cães com respeitável pedigree...

Acresce, agora, a violência dos terroristas no Iraque, em Israel, na Palestina e outros países, cuja sanha de violência vem se voltando contra as indefesas crianças. Primeiro essa violência foi contra os soldados invasores de suas terras. Depois contra civis adultos inocentes. Nestes últimos dias, também contra indefesas mulheres e inocentes crianças. Lembro aos leitores o que há dois meses aconteceu na Rússia, na cidade de Beslan, nada menos que em uma escola!. Desalmados terroristas, mais animais que gente, ousaram assassinar, friamente, cerca de 160 crianças. As cenas que vimos e que percorreram o mundo, indignaram todos os que vemos em cada criança o futuro, a esperança de dias melhores e uma prova de que Deus ainda continua confiando nos homens. Se as considerações que estou fazendo levarem à reflexão os pais, as autoridades e adultos do Brasil à indignação, ao acolhimento do dom da vida dos pequeninos nos ventres de suas mães, ao respeito e à defesa dos direitos das crianças à vida e à felicidade, me darei por recompensado. Saibam quantos atentam contra a vida dos que estão para nascer, contra os pequeninos já nascidos, “flores dos nossos jardins” e “sorrisos de Deus”, que mais adiante Ele pedirá severas contas aos ousarem atentar contra as suas vidas. Lembrem-se da palavra divina de Cristo: “É dos pequeninos o Reino de Deus! Ai dos que os escandalizarem! Melhor lhes fora que atassem uma pedra de moinho ao pescoço e fossem lançados ao mar!”.

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