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Publicado: Segunda-feira, 11 de julho de 2005

Por que os Problemas na Igreja?

Essa instigante pergunta comporta diversas respostas. Em artigo anterior afirmei que o problema está no fato de a Igreja ser uma instituição divina, mas pastoreada e integrada por homens e mulheres. Fica sempre uma não desprezível margem de deficiências, limitações e pecados em seu interior. Cristo, seu fundador, deliberadamente antecipou esse risco quando decidiu não colocar à frente de sua Igreja anjos, mas seres humanos.

Certamente nós da hierarquia - bispos, padres e diáconos - falhamos tanto na evangelização quanto na catequese de milhões de crianças que batizamos. Não é novidade que também a família que abençoamos raramente é a “escola da fé”, a “pequena Igreja doméstica” que tem o dever de ser. Pais e mães se omitem na evangelização dos filhos e às vezes dão um contratestemunho devastador.

Ainda têm a sua grande parte de responsabilidade os meios de comunicação, que com sempre maior freqüência agredem valores sagrados como o casamento e a família, a vida, o amor, a solidariedade e a justiça. A Igreja vem sendo sistematicamente atacada por anticlericais, hoje muito mais numerosos que ontem.

O momento histórico que vivemos tem a sua parte nos problemas da Igreja. Relativismo e secularismo, consumismo e permissivismo são marcas da modernidade, contraditando a mensagem do Evangelho centrada no amor e na partilha, em verdades objetivas, absolutas e permanentes. As riquezas, o poder e o sexo divinizados, verdadeiros ídolos da sociedade atual contam com um sem número de adoradores. São falsos deuses, adorados por empresários e políticos, por professores e comunicadores sociais.

Essas respostas até certo ponto explicam sem justificar, os graves problemas de uma instituição que, tendo já os seus dois mil anos, ainda se encontra na adolescência, fazendo história em uma sociedade descristianizada. Mesmo “perita em humanidade” e “experiente em crises”, como dizia o Papa Paulo VI, a Igreja acaba sentindo todos esses golpes dados, não raro por seus filhos e filhas.

E aqui estamos onde desejava chegar, sem pessimismo, sem ilusões, com a objetividade necessária, condição para a superação de todo problema. Durante trinta anos a Igreja trilhou no Brasil diretrizes pastorais impostas por exegetas, teólogos, pastoralistas e moralistas ligados a certa teologia da libertação (TL) que fez muito estrago. Não é fácil enumerar todos. É arriscar-se a apedrejamentos porque, embora enfraquecida a TL, que abusou de análises marxistas da realidade brasileira e nas soluções apontadas, continua com certa força e presença entre alguns poucos bispos, em boa parte dos presbíteros e certas lideranças do laicato.

Omito-me na citação e identificação dos que ainda se inspiram na TL, claramente condenada nas importantes Instruções “Libertatis Nuntius” (1984) e “Libertatis Conscientia” (1986). Sem aprofundar a reflexão enumero o que chamaria de pecados e problemas criados pelos líderes da TL, que dominou a ação da Igreja no Brasil depois da Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano realizado em Medellín, Colômbia, em 1968.

Concordam comigo nessa identificação dos atuais problemas internos da Igreja os últimos Papas, arcebispos e bispos, teólogos, biblistas e pastoralistas brasileiros. Assim a TL:

- distanciou-se da cristologia e eclesiologia do Concílio Vaticano II propondo uma Igreja popular em contradição com a hierárquica, a Igreja particular mais que a Igreja em sua apostolicidade;

- difundiu no interior da Igreja o “complexo anti-romano”, minando a autoridade da Sé Apostólica de Roma, indispondo laicato e clero, presbíteros e seus Pastores;

- levou a uma opção não preferencial e evangelizadora dos mais pobres, mas a uma opção exclusiva, excludente e agressiva, que se inspirou não no mandamento novo do amor que leva à solidariedade e partilha dos bens, mas ao rancor e ao ódio, ao incentivo às lutas de classes, à agressividade e aos conflitos, a métodos violentos, ao terrorismo urbano e às guerrilhas;

- privilegiou as comunidades eclesiais de base, as CEBs, fortemente empenhadas em uma releitura politizada da Sagrada Escritura, mais interessadas no social e no político-partidário socializante e estatizante, que na evangelização centrada no anúncio explícito da pessoa e da verdade de Jesus Cristo, em soluções marxistas distantes da doutrina e dos valores sociais do Evangelho;

- pretendeu valorizar e promover mais os pobres da sociedade, porém acabou agredindo os ricos e os grupos decisórios dos quais dependem a formação da opinião pública e as leis, a mais justa distribuição dos bens criados por Deus e produzidos pelo trabalho humano;

- incentivou o anticlericalismo de muitos levando, paradoxalmente, um sem número de católicos mais pobres para as Igrejas pentecostais e neo-pentecostais que, em trinta anos, passaram de 5% a 15% no Brasil;

Por isso vem a propósito reafirmar que os posicionamentos dos teólogos, biblistas e pastoralistas ligados à TL que predominou entre nós, esteve e continua em notória contradição com a mensagem central do Evangelho, o amor, a Tradição e o Magistério oficial da Igreja. Sempre é tempo de uma avaliação do passado, retornando aos valores e caminhos dos tempos apostólicos e patrísticos, ao ensino social dos Papas em suas magistrais encíclicas e mensagens, de Leão XIII a João Paulo II.

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