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Publicado: Segunda-feira, 7 de março de 2005

Por que Minas?

Paira pelo nosso colégio, durante boa parte do ano, uma visível sensação de expectativa em meio a alguns estudantes. É a viagem a Minas Gerais a tirar o lugar comum da sala de aula ou das freqüentes mas rápidas pesquisas de campo. É o momento de preparar-se para passar quatro dias fora de casa, junto com a sua turma, a pesquisar in loco o que vem analisando em sala de aula ou nas tarefas de casa. São grupos de alunos reunidos na biblioteca, atolados em livros, mapas, desvendando mistérios da vida de personagens desaparecidos do mundo há duzentos anos, mas que teimam em estar presente no imaginário das liberdades políticas. Assistem-se filmes, escrevem-se relatórios, discutem-se conceitos, alguns novos, abstratos, organizam-se informações, novos grupos: barroco, ouro, fé, liberdades, mais barroco, mais ouro, a igreja da Candelária, Silva Manso, Pe. Jesuíno, retábulos, a vida caipira, Almeida Júnior, Pinacoteca do Estado, Museu do Ipiranga: a partida da monção: para onde vai? Para onde quer me levar? Eu também vou! No fim uma despedida, um aceno para a tela: até lá!

Meses se passam, finalmente chega o dia da viagem: malas, mães chorosas, pais preocupados, filhos ansiosos, irmãos invejosos, professores eufóricos.

Vem o outro lado: a realidade: renovadora, estremecedora: o novo sempre assusta mesmo: quanto ouro, quanta fé! Quanto barroco, quanta casa mal conservada, quanta rua suja, quanta natureza desprotegida! Quanto comércio em torno da fé!

Ouro Preto, Mariana, Congonhas do Campo, São João del Rei, Tirandentes, um roteiro medido palmo a palmo pela sensibilidade de gente jovem, atenta a tudo, a estilos da arquitetura, retábulos (quantos!!), frontões, florões (confusão?), púlpitos, santos, nossas senhoras daqui e dali, órgãos, orquestras, missa, latinório: Sanctus, Sanctus, Sanctus...

Aleijadinho: pode um homem, no limite de suas forças, na precariedade de sua existência, produzir tanta arte? Afinal, o que é ser artista? O que é a arte? Horas de discussões, no adro de Congonhas.

A volta: que chato, vontade de ficar mais! Mais uma hora só... uma última olhadela...

À altura dos seus treze anos a moçada da 7ª série estuda o roteiro das cidades do ciclo do ouro de Minas Gerais a fim de mergulhar na cultura colonial brasileira, de compreender as raízes de seu mundo: da organização da cidade em que vive, do formato da casa onde mora, da obsessão pela riqueza, do poder da religião, dos monumentos da fé, da fé e da fé em que, da política, da luta pelos direitos.

As atitudes novas, provocadas a cada momento, surgem logo, o respeito a tudo e a todos, seja onde for ou quem for, a organização, a limpeza, o companheirismo, práticas que, muitas vezes, ficam veladas no desejo de ser bom, simplesmente. A convivência dia-a-dia e noite-a-noite, estabelece oportunidades para zangar-se, odiar, vingar-se de seus colegas (e professores), mas também para repensar todos esses conceitos e tomar atitudes positivas, exorcizar infantilidades por já se enxergar responsável e coerente.

Ninguém volta indiferente. A viagem é um divisor de águas em vidas tão jovens. É um aprendizado que logo se avalia o significado com profundidade.

Todo mundo aprende muito; professores e alunos aprendem valores do passado e do presente e se sensibilizam às atitudes que, afinal, são o que de melhor se espera do ser humano.

Minas, para que? Para tudo isso. Escola, para que? Para tudo isso.Boa viagem, para quem está disposto a se transformar!

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